Ondular cortina clara de ovo. Um domingo de sol como sempre leite morno. Não quero olhar lá para fora e ver o de sempre quintal do vizinho, com mulheres tomando sol, mergulhadas em bronzeador de cenoura, nem muito menos ouvir aquelas músicas sobre bundas e garrafas, amor de enceradeiras e coisas assim. Tudo isso é popular demais, globo demais.
Estou confortável em meus lençóis. Abrigada em meu casulo, em minha casca.... protegida do resto da casa, esperando que venham e me acordem com gritos e afetos e frango e macarrão. Aí eu não vou comer, em nome da minha segurança, saindo da cama apenas quando minha intuição mandar. Ou melhor, a minha fome. Ou então alguém me acordará (provavelmente minha irmã) com algo que eu não possa recusar. Eu adoro estas cobertas, adoro muito...........zzzzzzzzzssssxsd..........sssssss....llll
.....
Quero ser seduzida por ela, minha vizinha Tereza, de vagina limpa como
branco claro...clara oleosa, sabão ao
sábado escuro. E é preciso que estudemos juntas a matéria
de álgebra, absolutamentejuntas como Abel e Cain
aos beijos diante da porta fechada num carpete feito para nós..
Cabelos e seios , borracha e papel, perfume e
pele, ternura de uma colega de classe, destas que são como irmãs.......
porta se abrindo perto, pais chegando
de roupa (as roupas!?). No escuro é difícil achar as
coisas.
Será que já é tarde e já foram todos? Pergunta
amedrontado o meu corpo, agora deformado à vista de todos por abraçar
minha amiga com um carinho de amantes. Espero que esteja bem, minha Teresa....
Os seus
pais devem ter batido em você e talvez tenham quebrado suas bonecas....
Como me olharão meus pais, meu tio Orácio ...nem vão
mais me cumprimentar. Tadinha da Teresa, com seus olhinhos, seus ondulados
loiros, seu narizinho quebrado, sua mão comprida e fina, cheia de
anéis.... Seus finíssimos braços, cheios de hematomas
inchados , seus seios pequenos, as risadinhas, dantes vividas como peixinhos
dourados, escorregadios...Agora, peixes de vidro quebrados .Talvez se eu
dormir um pouco mais eu renasça de minha casca como uma codorna
inflável.
...Acho que consegui me livrar daquela vida......
Tudo vai ficar bem...... “Por que fez isso minha filha”... “Foi algo que
seu pai e eu fizemos?”, “Aquela menina era louca, Romana...Não se
preocupe, ela será internada... ESTAMOS SEGUROS AGORA, CORAÇÃO!!!!!!!!!”

Acho que não vai dar mais para dormir, me incomoda tanto esse ondular na cortina, formando rostos e tristezas. Me incomoda saber que Tereza sumiu para jamais reaparecer e que agora estou cansada, casada e está tudo normal. Gostaria que meu marido aqui estivesse, me abraçando quentinho... mas ele trabalha de madrugada nos fins de semana enquanto eu fico aqui, olhando para o ondular cinza(antes ovo) e me lembrando dos cabelos cacheados de sol.
Fabiano Moreira