O som regular faz-se ouvir
em intervalos cronologicamente precisos, um estalido metálico e
repetitivo, a matriarca desperta do seu sono pesado em um salto, seus olhos
abertos se deparam com a escuridão voraz de uma noite fria e solitária,
seu corpo inerte sobre o vasto leito, é tomado por uma sensação
que emerge do fundo do imenso baú do seu passado, um passado de
mais de oito décadas, oito décadas vividas entre o Maranhão
e o Piauí, o som continua maquinalmente a chamá-la, sua regularidade
dá-se em intervalos cada vez maiores, mas continua vivo e intenso,
metálico e inumano, seus olhos desgastados e carcomidos pela catarata,
seus ouvidos envelhecidos pelo tempo, não conseguem discernir a
origem, nem o significado daquele som tão inumano e irresistivelmente
atrativo. Seu corpo teso, pesado de movimentos dificultosos, resiste ao
som regular e insistente que a chama, sente medo, não da escuridão
ou do frio, mas de quem poderia estar lhe chamando, levanta-se com dificuldade,
lentamente, sabendo que um movimento mal calculado poderia lhe por em sério
perigo, primeiro senta-se, seus ouvidos gastos em nada lhe ajudam, o som
é indiscernível, parece até vir de um outro tempo,
um tempo longínquo em que ela era leve, de movimentos lépidos
e tinha uma família numerosa, tempo em que a solidão era
só um nome, um nome vagante, insuspeito, que nada tinha a ver com
aquela casa repleta de filhos e o marido que cortava as águas do
Parnaíba em suas viagens. Sentada ela vê diante dos seus olhos,
como a muito ela não vira, aquelas crianças cortando a casa
com seus risos e briguinhas infantis, o som agora também é
nítido, em um outro momento já não há crianças,
elas dormem um sono profundo, o som maquinal se repete, ela ouve muito
bem, é o som de mãos que batem contra a porta, a imensa casa
de Parnaíba é constantemente visitada, Benedito, seu marido,
é um homem de vida pública, envolvido com política
e sindicatos, ele dorme, mas ela como que por intuição parece
já saber que dessa vez, não é um habitual chamado
para suas viagens, é algo diferente, o som repetitivo e regular
é inumano, estamos em 64, os militares tomam o poder, os demônios
regem a vida política do país, Jango é expurgado,
o militares perseguem e ceifam as melhores cabeças de toda uma geração,
64 é o ano onde começa a queda de um povo, de sua família,
a matriarca não sabe, não é uma mulher de letras,
nem entende de política, mas seu senso de sobrevivência lhe
sussurra que aquelas mãos que batem à porta não são
as mãos de Carlos, mas mãos vigorosas e destrutivas que dentro
em pouco sua casa irá revirar, sua intimidade invadir, seus filhos
traumatizar, seu marido prender como um criminoso, conspirador.
“Em 1964 os militares usurparam
o poder, o estado de direito foi suprimido, a corja de militares perseguiu
e cortou as melhores cabeças de toda uma geração,
milhares de jovens que acreditaram em seu país e na possibilidade
de construção de uma nação democrática
foram perseguidos, homens de ciência e letras foram expurgados do
seu próprio país, quando não foram mortos nos porões
da ditadura. Pessoas como Darcy Ribeiro, Caetano Veloso e muitos outros
que compreendiam o real significado de ser brasileiro, foram calados, perseguidos,
seviciados por tudo aquilo que a nossa história, de toda a América
latina, tem de pior: o despotismo, o conservadorismo de uma elite que não
compreende a riqueza do seu próprio povo, herdeiros de uma lógica
colonialista assentada na exploração de seu povo e uma ridícula
subserviência cultural diante dos antigos colonizadores, o sangue
derramado pelos militares não será recuperado, este sangue
é uma mancha viva na nossa história, esse sangue carregou
boa parte dos nossos sonhos, só nos legando esse terrível
passado de perseguições e brutalidades, as cavalgaduras condecoradas
que rapineiramente tomaram o poder em toda a América latina, construíram
um pesadelo de povos medíocres e ignorantes, só após
muito tempo poderemos despertar desse sono letárgico.”
Seus olhos vêem, sua boca emudece, tenta desesperadamente dizer a Benedito que não vá, que é uma emboscada, que em segundos sua casa será invadida por um sem número de militares amarelos, de olhares mortos e ações mecânicas, mas suas palavras se perdem no ar, se perdem no fundo do imenso baú, aqueles homens amarelos invadem a casa, as crianças choram aterrorizadas, sua casa está sendo destruída em plena madrugada, elas são só crianças, não entendem o que estaria acontecendo, a imensa mesa onde elas estudam rotineiramente, cheia de livros e material de estudo é jogada ao chão com tanta violência que se parte, os livros e lápis correm caóticos pelo chão, camas e colchões são revirados, nada fica intacto, toda a sua intimidade é violentada. Benedito assiste ao terror, que se apossa de si e de sua família, impotente, seus olhos crescem vermelhos pela agressão de ver a sua mulher e filhos reduzidos ao terror infligido pelos amarelos de olhares mortos, suas mãos convulsas tentam ocultar da sua própria vista o cenário dantesco daquela madrugada, madrugada que não acabará nunca, sobreviverá na mente daquelas crianças que corriam atrás do carro que levava seu pai inexplicavelmente preso, preso como um criminoso, as criancinhas corriam e gritavam em seu choro suplicante pelo pai, o pai que as via, em sua face transfigurada: o terror, o terror que estava também na face suplicante dos filhos, a matriarca era forte, ela não daria suas lágrimas suplicantes para aqueles amarelos covardes, sua dor era só dela, ela não choraria, ela não chorou diante dos militares.
As coisas, pessoas e lembranças saltam do baú da matriarca, ela continua a ouvir o estalido mecânico e regular, o som indiscernível a chama, a madrugada corre em um breu turvo, o frio está nas paredes, solitária a matriarca com muito vagar coloca-se de pé, seu andar é lento, ruma na escuridão tateando pelas paredes frias, tentando descobrir de onde vinham aquelas vozes...Dois anos se passaram desde a madrugada de terror que levara Benedito preso, ele voltara dentro de poucas semanas, mas não voltara como antes, era um homem assustado, aterrorizado, a qualquer batida na porta ele se desesperava, dizia que iriam levá-lo, que lá ele seria torturado, falava em uma tal ilha das cobras, sua voz carregava medo, um medo cego de dor, uma dor que ele sabia real, que o consumia, já não era o mesmo, não tinha o sorriso fácil, tornara-se calado, meditativo, desconfiado, era um homem de sessenta e poucos anos, não era mais tão resistente, sentia-se cada vez mais triste, todos sentiam que aquela noite realmente o mudara, que sua prisão, apesar de curta, fora decisiva em sua morte. As crianças dois anos depois também choraram, mas agora os amarelos não estavam lá, a morte se abateu sobre o homem que cortava as águas do belo Parnaíba, o rio que separa o Piauí do Maranhão, a morte o levara e deixara na mente de todos uma ferida aberta, era indissociável a relação entre a morte por derrame e a ação covarde dos amarelos dois anos antes, as crianças agora choravam sua dor cega, uma menininha corria desesperada para os fundos da grande casa com seus longos cabelos finos sobre o rosto, gritava pelo pai que dessa vez não poderia ouvi-la, as lágrimas cortavam sua face, a pequena menina não esqueceria aquele dia também. A matriarca também não chorou, não iria derramar as suas lágrimas na frente das crianças desesperadas, ela ficou em casa, o féretro seguiu, ela ficou em casa só, e sozinha chorou copiosamente a sua dor, a matriarca seria agora também o pai de todos eles.
“`O Piauí é o único estado do nordeste cuja capital não está localizada no litoral, Teresina (nome em homenagem a imperatriz Teresa Cristina) foi estrategicamente escolhida como capital, para realizar um crescimento equilibrado no estado do Piauí, mas a filosofia de José Bonifácio não vingou, o Piauí não cresceu, é mais um obscuro e mísero estado nordestino, sua elite podre só vende a imagem de um estado corroído pela corrupção e miséria, a burrice cega dos coronéis do Piauí esconde a sua beleza para o resto dos brasileiros, seu litoral, o menor do país, é incrivelmente belo, Parnaíba é uma das duas cidades do seu litoral, pela lógica da organização política nordestina seria a capital do estado, mas hoje é uma cidade que vive na penumbra, desperta somente no período de férias, quando os turistas de Teresina, Fortaleza invadem o seu litoral mágico. A Parnaíba da matriarca é uma outra Parnaíba, é uma cidade que ficou perdida em seu passado, uma cidade onde ela viveu reclusa em sua própria casa desde a sua união com um homem mais velho e casado, em seu tempo isso era um verdadeiro crime, hoje a separação e nova união conjugal é algo banal, mas a matriarca teve que carregar a sua cruz, era ainda jovem quando seu Benedito morreu, tinha cinco filhos, recusou qualquer novo relacionamento, seu coração se fechou para qualquer outro homem, o belo mar de sua Parnaíba ficou cada vez mais distante, a matriarca seria agora como uma onda solitária.”
A matriarca é hoje
um baú de lembranças, elas tornam a sua alma pesada como
o seu corpo, seus movimentos são lentos e dificultosos, sua face
carcomida pelo tempo só denuncia a sua longa idade, a mulher bela
que fora ficou perdida em algum lugar do tempo, o baú a tragara
em algum momento da sua longa vida, a matriarca lentamente tateia pelas
paredes frias de sua solitária casa em Teresina, estamos em um outro
século, a matriarca se equilibra com dificuldade, os anos pesam
em seus passos, o som metálico continua a se repetir em intervalos
cada vez mais longos, ela escuta vozes, vozes de um homem que diz vir pegá-la,
um homem sem face, um homem sem corpo, pura voz que vem de algum lugar
daquele infinito breu que era a madrugada, ela diz para que ele vá,
que ela não o quer ali, que ali era casa de gente de bem, que ela
era uma mulher velha e solitária, não tinha bens, já
nem sabia mais se tinha até os filhos que se tornaram cada vez mais
distantes e ocupados, deixando somente a solidão do baú que
ela se tornara como companhia.
A voz assustadora se elevava,
ela via agora um homem que brotava do nada, de uma escuridão profunda,
era um militar amarelo que dizia agora vir pegá-la, ela também
conspirava, era uma inimiga da paz e da família, ela não
temera aos militares há muitos anos atrás, pois não
derramara as suas lágrimas, mas agora ela descobriria que os demônios
amarelos do exército do Brasil ainda estavam a espreita, queriam
levá-la, queriam as suas lágrimas, ela desta vez não
ocultou seu medo, sentiu uma dor cobrindo o seu coração,
deu um passo, desprendeu as mãos das paredes frias e veio ao chão,
seu corpo pesado caiu para não mais levantar, sua queda foi pesada
e sonora, bateu o rosto fraturando o nariz e lesando o olho direito, seu
corpo lá ficou, ela inconsciente só teve ao chão duro
e frio para acolhê-la, enquanto lá fora, o som metálico
e regular da goteira dava o tom mórbido, a tempestade copiosa de
raios e trovões cobria toda a cidade.
A matriarca flutua na escuridão
da madrugada chuvosa, os fartos fios d’água inundam as ruas de Teresina,
os trovões arrasadores rasgam o céu turvo, longos brilhos
de luz antecedem os estrondos colossais, o corpo pesado da matriarca fica
lá, esparramado pelo chão, sua face banhada em sangue, inconsciente
ela cai em um imenso fosso do seu ser, sua queda é lenta, pausada,
em sua queda ela vê os amarelos de olhares mortos invadirem a casa
grande e prenderem o seu marido, em sua queda um féretro carregava
a metade do seu ser, o homem a quem ela dera o seu amor, o seu corpo jovial,
os filhos, sua dor solitária na grande casa, em sua queda ela vê
a coragem se diluir na irrefreável solidão, a solidão
e o tempo andavam juntos, a matriarca via a si e a sua prole tendo que
lutar pela sobrevivência em uma nova realidade, uma realidade de
escassez e privações, uma realidade vazia de bens e alegrias,
ela caia e via a si, jovem e bela, recusando os vários pretendentes,
não queria mais saber de homens, seu corpo morrera para o sexo,
sua vida seria totalmente devotada aos seus filhos, caia e via a velha
cidade de Parnaíba perdida no tempo, um tempo nebuloso, um tempo
que já não mais existe. Em sua queda, a matriarca sentia
emoções que esquecera, cheiros, vozes e imagens tinham uma
nitidez e vida próprias, a matriarca via tudo aquilo inundando o
seu ser, via a tudo como se fosse uma outra pessoa, uma história
parecida com a sua, mas que não era a dela, recorda-se das brincadeiras
de roda e do bumba-meu-boi que fascinava e assustava as crianças,
criança que um dia deixou nos Milagres, no Maranhão.
A matriarca sente que sua
queda no obscuro fosso sofre uma refreada, sem que se aperceba ela começa
a deslizar na superfície de uma infinita pedra de gelo, mas incrivelmente
não sente frio, desliza e sente que seu espírito salta em
alegria, uma euforia inexplicada se apossa do seu ser, sente que seu corpo
é tomado por uma sensação inebriante de prazer, centelhas
a cortam de cima a baixo, seus olhos brilham, ela já não
mais desliza na superfície lisa de uma imensa pedra de gelo, ela
tem os seus pés nus acariciados por um terreno arenoso, úmido,
ela é jovem, bela, seu corpo já não é mais
aquele todo macerado de movimentos tardios, é novamente aquela mulher
leve, de cabelos volumosos, sente o vento fresco que a recebe carinhosamente,
uma lua distante brilha sorridente, seus belos olhos vêem o brilho
prateado da lua sobre as águas do mar, ela, solitária, sente-se
leve como uma pluma, plena como mulher, corre feliz pela areia fofa da
praia virgem que a acolhe e incrivelmente faz da solidão um tenro
e insignificante pano de fundo para as estrelas que brilham fogosas em
sua alegria suspensa e iluminada, a matriarca corre pela praia sob o brilho
de uma noite fresca, as ondas a saldam em seu som vivo e borbulhante, a
matriarca levita plena em suas lembranças...
— Matriarca! Você é uma velha esquecida por tudo e por todos, não passa de um baú velho e inútil, nem teus filhos mais se importam contigo!- diz o amarelo de olhar morto.
— Eu não te darei minhas lágrimas, você já tentou arrancá-las de mim há muito tempo, não me dobrarei diante de suas palavras venenosas, você é um amarelo assassino!- diz a matriarca altiva.
— Não pense que viverá por mais tempo, velha solitária! Eu vou te pegar, vou apertar o teu pescoço, quero sentir teus ossinhos carcomidos entre minhas mãos fortes!
— Viverei contra a tua vontade, não será um verme amarelo como você que virá me afastar dos que amo, só partirei quando não mais me sentir amada, só me alimento do amor, seu ódio de militar que cospe fogo não me assusta, meu amor me fez resistir ao crime de 64, à pobreza e à solidão da velhice, só abandonarei esta vida, esta terra quando os meus não mais nutrirem amor por mim, só o fio do amor me sustenta, a vida corre latente por esse corpo velho, gasto em uma vida de labuta e solidão, regi a saga dos Caldas por essas terras áridas, não será um amarelo do exército do Brasil que irá me dizer o que devo fazer ou não, vá embora!
— Não pense que você com essas palavras adocicadas e bobas me convencerá a não levá-la, velha! Vai morrer só, abandonada em uma casa de paredes frias, em uma noite chuvosa de relâmpagos e trovões, como aquela em que levei o teu homem comigo, vai morrer velha e esquecida, faminta e banhada em sangue, o sangue senil do esquecimento, velha, você não passa de uma carcaça esquecida nessa terra mísera dos piauienses!
— Meus filhos ainda me amam, eles não me esqueceram, eles não são maus! Eu os ensinei a amar, eles virão para me salvar de você, dessa noite fria e úmida que inunda toda a cidade, você é um pobre amarelo que não conhece o amor, covarde que invade lares na surdina para abusar de quem acredita na felicidade, covarde corrompido, derramará meu sangue, mas não me privará do meu amor, da felicidade que trago aqui no meu peito!
— Não quero o seu sangue, ele já está aí, na tua face, face rugosa e banhada em sangue, o sangue do esquecimento, da humilhação, você viveu muito, e agora está aí, inerte neste chão fétido, como um saco abandonado que nada vale...- o amarelo ri com sordidez, seu sorriso é torto e termina em um som excêntrico como zurros.
— Meu sangue é como a chuva que cai e lava, não é o sangue da humilhação, do abandono, meu coração bate movido pelo amor que carrego no meu ser por todos esses anos, foi com ele que eu superei a dor da perda, a solidão, você é como um pequeno verme, um verme que tenta ganhar voz, tenta saltar de um longínquo passado, mas você é quem está morto, você é quem está sujo de sangue, sangue vergonhoso, o sangue de milhares de brasileiros que foram presos, torturados e mortos! Você é um verme amarelo!
— Apertarei o seu pescoço velha! Vai morrer! Vai morrer! Vai morrer agora!
— Não morrerei! Tire suas mãos de mim! Você não tem esse direito! Vá embora! — a matriarca deitada no chão, após a madrugada e todo um dia, diz monossilabicamente, com uma voz frágil e dolorosa, que não vai morrer, que aquele homem não a levará, ela não irá. Seu filho em lágrimas diz que tudo vai ficar bem, que ela não tenha medo, ela viverá, ele a ama, ele não esqueceu dela.
Os olhares pasmados incidem
sobre a matriarca, os olhares dante chorosos e suplicantes em uma infância
perdida, agora, pasmos, enchem-se de dor e culpa, suas lágrimas
são as lágrimas da consciência pesada, o peso de terem
esquecido, abandonando a matriarca a sua brutal solidão. Esses olhares
carregados de dor e de culpa, escondem um conflito profundo, um conflito
que remonta a noite do pesadelo de 64, um conflito alimentado pelo excesso
de severidade da matriarca, que em seu apurado instinto de conservação,
acabou por exercer um domínio desmedido, modelando psicologias frágeis
e conflitantes, espíritos carregados de tabus e pudores sexuais.
As crianças chorosas e suplicantes é o que escondem esses
olhares, os olhares que ainda estão presos na noite de trevas.
A matriarca agora é
livre, seu corpo não mais pesa sobre o seu espírito, ela
corre na imensa praia iluminada pela lua prateada, seus cabelos longos
voam suspensos pelo vento forte, ela ri diante das estrelas que estão
ao seu alcance, o brilho das estrelas não ofuscam o seu próprio
brilho, ela levita plena e exibe altiva o amor que fez dela a matriarca
dos Caldas, a mulher forte que sobreviveu aos militares, a pobreza, a solidão
da velhice, e mostrou o poder do seu amor, bela em seu amor, a matriarca
sorri.