Galinhou o quanto pôde, solteiro, casado. Eu à espreita. Mijou fora do penico, levou um chute da mulher, foi descartado. Eu à espreita. Continuou na galinhagem, mal olhava para mim, e quando olhava não me via. Pensei em rodar a baiana, usar purpurina, fazer dança do ventre. Só pensei, e continuei à espreita. Um dia, me enxergou. Me abordou, me cantou, me tocou, me disse que eu era a definitiva. Olhei e não reconheci. Estava triste, gasto, solitário. Não senti nada. Pediu que o aceitasse. Não senti nada. De tanto ficar à espreita, desaprendi a olhar para mim. Descobri que também estava gasta, triste, solitária. Dei-lhe as costas como quem quebra um espelho impertinente.
Ana Flor