Primeiro dia.
Vital encontra Miro no bar.
— E aí, Miro? Tudo bem?
— Tudo.
— Puxa, você não sabe o que aconteceu com um amigo meu!
— Nem imagino.
Vital se ajeita no banco para contar a história.
— Aconteceu com o Silva. É um cara que bebe demais e se mete
em confusões. Esses tempos atrás, ele viajou pra Nova Iorque;
bebeu muita cerveja e, acompanhado de um bêbado americano, foi pro
terraço daquele edifício grande, o Empire State, sabe?
— Sei...
— Bom, lá em cima, o bêbado americano propôs uns
desafios pro Silva. Primeiro, era andar em linha reta; ambos foram bem.
O segundo desafio era fazer um “quatro” e os dois conseguiram. Por último,
o americano pulou do prédio. Após algum tempo, o danado voltou
inteirinho. Silva não se fez de rogado e também pulou. PAM!
O cara se fudeu, se esborrachou todo lá embaixo. Um cara que estava
passando e viu tudo, comentou:
“— Esse Super-Homem quando bebe fica mau caráter...”
Imediatamente, Miro solta uma risada ruidosa e incontrolável.
— Há, há, há... você não existe,
Vital... Há, há, há... essa foi muito boa... Há,
há, há...
Segundo dia.
Vital encontra Miro acompanhado de outros amigos no bar.
— E aí, Vital?!
— Tudo em cima, pessoal?
Os cumprimentos de costume.
— Pessoal, o Vital tem uma piada muito boa. Conta pra turma, Vital.
— É, conta. Estamos curiosos.
Com falsa resistência e modéstia, Vital cede aos pedidos.
— Tudo bem. Vamos lá.
Todos se ajeitam, ansiosos. Vital começa.
— Então, dois bêbados estavam no terraço do Empire
State, em Nova Iorque. Um deles virou pro outro e disse: “Ic! Vou propor
uma... ic... disputa: o que eu fizer... ic... você tem que imitar”.
O outro topou. A primeira parte da disputa foi andar em linha reta; ambos
obtiveram sucesso, apesar do estado etílico. A segunda parte foi
fazer um “quatro” em pé; com muita dificuldade, conseguiram. Por
fim, como última etapa, o desafio consistia em pular do prédio;
o primeiro bêbado, aquele que propôs o desafio, pulou e...
voltou inteiro ao terraço. O outro bêbado não se fez
de rogado e pulou também: PAM! Ih, o cara se fudeu todinho, virou
pasta de sangue lá embaixo. Um cara que estava passando e viu tudinho,
disse: “Esse Super-Homem quando bebe fica mau caráter”.
O grupo explodiu em uma risada contagiante, com exceção
de Miro que esboçou um sorriso discreto.
Terceiro dia.
Vital encontra Miro no bar. Os cumprimentos corriqueiros. Um pouco
depois, chega a mesma turma de ontem acrescidos de alguns novos integrantes.
— E aí, Vital? O pessoal aqui tá a fim de ouvir aquela
piada dos dois bêbados.
Os outros incentivam Vital.
Após hesitar, ele conta mais uma vez a piada do momento.
— Pois é, dois bêbados americanos estavam no terraço
daquele prédio altão em Nova Iorque, o Empire State. O mais
chumbado dos dois propôs uns desafios. Primeiro, teriam que andar
em linha reta; com muita dificuldade, ambos conseguiram. Segundo, teriam
que fazer um “quatro” em pé; mais uma vez, apesar de um deles quase
cair, também conseguiram. Por último, deveriam pular do prédio;
o bêbado que propôs os desafios pulou. Rapaz, o cara voltou
inteirinho. Vendo isso, o outro bêbado se animou e foi também.
PAM! Não deu outra, se fudeu todinho lá embaixo, não
sobrando nada do cara. Uma pessoa que estava passando e viu tudo,
comentou:
“— Esse Super-Homem quando bebe fica mau caráter.”
Os novos integrantes do grupo explodiram em gargalhadas. O resto do
grupo sorria discretamente. Miro olhava tediosamente.
Quarto dia.
Vital encontra Miro no bar com os mesmos amigos de dois dias atrás.
Os cumprimentos de sempre.
Sorvem goles de bebida. Conversam amenidades, intercaladas por longos
minutos de silêncio melancólico.
Após quarenta e cinco minutos, aparecem alguns novos amigos.
Os cumprimentos de costume. Vital permanece na expectativa. O tempo passa
e ninguém solicita sua famosa piada. Ao ataque.
— E aí, pessoal?! Conhecem aquela dos dois bêbados no
Empire State?
Miro olha enfadonho. O grupo antigo resmunga um conta outra.
Vital investe nos amigos que chegaram há pouco tempo.
— Gilmar, conhece?
— Aquela do cara que era o Super-Homem? Ah, essa piada já tá
caducando, todo mundo conhece.
Vencido, Vital bate em retirada.
Quinto dia.
Miro bebe solitariamente em um bar. Olhar melancólico.
Vital aparece. Os cumprimentos de costume.
— Miro, nem te conto o que aconteceu com minha prima freira.
Os olhos de Miro brilham.
— Você tem uma prima freira?
— Tenho, é uma prima distante.
Vital se ajeita no banco para contar a história.
— Então, ela estava pedindo carona na estrada quando apareceu
um caminhão...