A vontade de rir era irreprimível. Nem conseguia olhar para a
espada que reluzia à luz das tochas encostada a um canto, tão
cómica lhe parecia naquelas circunstâncias.
A todos guardara segredo da sua extraordinária capacidade, aguardando
o momento ideal para dela se valer. Nunca esperou que a ocasião
mais propícia se revelasse tão favorável. E nem imaginava
as repercussões, caricatas, de um gesto tão simples.
Limitara-se a fechar os olhos diante da rocha e fingir que puxava a
arma, sem no entanto chegar a tocar-lhe até a retirar por completo.
Ninguém percebeu.
Pelo que conseguiu, era venerado por todos. Adolescente, nascido plebeu,
sem ter demonstrado valor no campo de batalha, sem qualquer argumento que
o justificasse, iam entregar-lhe o reino. Nada menos...
Empunhou a colher e fixou-a como fizera com a espada. Concentrado,
Artur, cidadão de Camelot, não teve dificuldade em dobrá-la.
Jorge Gomes da Silva