Momentos Roubados

        Ele chegou de mansinho e foi ocupando espaços que ela guardava a sete chaves dentro do peito. Quando percebeu estava completamente enredada pelo jogo da sedução.
Palavras ditas de maneira brusca tentavam esconder o desejo que aflorava entre eles, mas os olhares trocados provavam a vontade de se tocar.
        Ele lhe deu de presente o sol se pondo entre as arvores. Ela Resolveu eternizar as horas que passaram juntos. Ajustou o foco da maquina fotográfica, enquadrou cavalo e cavaleiro, pelo visor observou os olhos negros, a boca macia, as mãos de peão calejadas pela lida do trabalho diário e percebeu que jamais escaparia.
        O disparo do botão disparou também seu pensamento. Por que deixar passar? Por que não viver o momento? Decidiu não lutar contra o que estava evidente, seu corpo exigia ser saciado, então deixou que ele a levasse. Aonde? Não importava, queria aquelas mãos lhe tocando, os braços abraçando, os lábios beijando.
        Caminharam pela margem do rio enquanto a areia fina tocava seus pés descalços. O barulho da água batendo nas pedras da cachoeira parecia murmurar promessas inesquecíveis.
        Um toque de mãos, a massagem feita com carinho na costa, um calafrio descendo pelo corpo inteiro. Ela pensou no que estava para acontecer, um estilhaço de razão cortou seu pensamento de ponta a ponta. Um não aflorou aos lábios, mas o beijo calou a palavra que não saiu.
        Com delicadeza estrema ele a deitou na areia. Mostrou com gestos o quanto a queria, a  ânsia que sentia pelo desejo reprimido. Ela abriu os olhos e viu uma estrela cadente riscando o céu pontilhado de minúsculos pontos brilhantes. Ele seguiu seu olhar e lhe sussurrou ao ouvido.
        – Tinha que ser assim, especial.
        O momento calou a voz, as palavras foram esquecidas. Ele tocou seus lábios  com a ponta da língua, provando, provocando arrepios, os corpos se buscaram e se transformaram em um só, ligados pela agressividade da hora.
        Os olhos se encontraram enquanto delicadamente ele se retirava de dentro dela. Ela gemeu e implorou.
        – Por favor, fica dentro de mim.
        Buscou o corpo dele como alguém que busca a água quando sente sede, e ele adivinhou seus desejos como ninguém antes havia feito. Respiraram no mesmo ritmo. Trocaram caricias que ela jamais imaginou existir. Quando sentiu as contrações do corpo dele e seu  líquido se derramar, ela explodiu em um gozo profundo, olhando as estrelas e se sentindo abençoada pelos deuses.
        Os animais noturnos guardaram as palavras e gemidos trocados. Entraram na água de mãos dadas, os corpos nus, o vento eriçando os pêlos do corpo. Olharam-se e perpetuaram na memória  o gosto do beijo, o cheiro do corpo, a fragilidade dos instantes roubados da vida de ambos e a vontade louca de que tudo voltasse a acontecer.

Araciara Macedo


 
 

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