MORDAÇA
Mal começo uma frase e já v ejo as granadas v
indo em minha direção. Minha frase se desmancha em
meio à fumaça e ao cheiro de idéias queimadas.
Tento palavras soltas. As granadas demoram, mas acabam
chegando: as palavras, mal ou bem, dão uma pista
da idéia original e também são eliminadas. Experimento
sons esparsos, mas minha voz se trai no tom apaixonado e é abafada
pelo abalo ensurdecedor e convincente das explosões. Para não
morrer sem ser compreendida, meu olhar manda a mensagem. As granadas
sossegam por instantes. Mas já não há
ninguém para decifrar o pensamento que transborda dos meus
olhos: as atenções estão voltadas apenas para
as mãos dos granadeiros.
Ana Flor
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