Da série: Contos Mínimos

Escritor

Veio morrer na sua cidade natal, com suas personagens. Habitado de passado, perde-se nas ruas de infância. Conversa com prédios demolidos. Ainda escreve mas não busca a fama, como na juventude.

Quer acertar as contas consigo mesmo. Moer contínuo de lembranças. O escritor não tem família. Recebe visitas ilustres em seu gabinete: Machado, Balzac, entre outros fantasmas.

Sonha perdido entre livros, mistura estórias que leu. Enquanto a morte distrai-se com amigos longínquos seus, lê obtuários e sua coluna no jornal. O escritor. Personagens, seu enredo, seu tempo, sua fama. Agora tudo parece tão pequeno, tão vago, simples. Num caderno, com letrinha miúda, escreve versos de amor. Ainda insiste em temas tão vagos. Já não pensa na morte, o escritor.

Carlos Azevedo

« Voltar