Epístola fabular das brasgentes, a brasavida e sua memória na iminência do século XXII

AURÉLIO MORRE

Ouviram o chorro do preto óleo descendo as escadarias imaginárias de maneira bárbara. Uma semana antes nas margens
do Purus o Rey sentiu-se flácido, complacente, indigente promíscuo. A luz da alma verdeja, amarela, girando em círculos. O
mundo inteiro é um losangulo vazio, inclinado, deitado com seu ar de força presbitereana, lado positivista prá cima. O
menino triste banhando-se no rio. Pedro se chamava primeiro Aurélio antes de vomitarrear vida distinta. Cagava lentamente.
Sobre seu cavalo na pampa distante, vertente de secas cômicas, apanhadas, no caminho girassóis. No fundo. O ar falha
onde se esconde a chama a chama é pura pelea. Se puxa os cabelos cheios de ar em torno do vazio. É tudo raro e feio. Só
deseja morte, estilo, sexo com vacas mortas, o pau duro enfiado na lama, na mesma areia da praia onde ressurge o som
direto da morte. A morte é sua parte sev era, a pátria rara, a dissolução da rima e dos mundos ordinais.

O frenesí cardíaco no peito de Meu Rey masturbando Aurélio. Tambalea chamando-o Pedro, miniatura gélida de rei, o
cadáver tropical que se pudre rapidamente nas tripas gerais da nação. 1938 morre Lampião. Geme dora. Nasce gente.
Oxossi cruza o mediterrâneo numa patera de vela única. Visualiza o sonho do dragão em seu esconde-esconde, esconderijo.
Algo se move em seus testículos. Geme prá fora, geme. Aurélio socorre a vontade divina. Seus dedos têm medo, dezenove
dedos. O dedo esquecido.

A rainha apenas pensa em alimento plantado em Portugal. Esconde-esconde, amarela peçonha. O sertão se inclina.
Despasso. Corre línguas pela trágica barriga monárquica. Dentes sobrados. Saliva oceânica. Aurélio esporreia nos mapas
antigos do império. O Rey feliz contrataca, lambuza os dedos e balança o rabo. A morte é sempre bemvinda. Ninguém
acredita na morte; ninguém acredita na morte quando ela chega. Morre quem vê primeiro. O diabo amarrado no pé da
cama; o diabo descobriu o arame, a serotonina, saltou do camarote à plateia interropendo o curso dos rios atlànticos pelo
palco, os fios da baba Do Rey Cáustico, o frase inteira, flor de ipanema, lábios brilhados de mel plutônico. O palhaço samba
cagado de frio. Deus fez o mundo, deus fez o mundo. Repetindo e chegando viu. O fuzil na mão, nuvens guisantes debaixo
de tudo aquilo e negra melodia encima.  São Jorge se alimenta ría dos cavalos alheios. Os cascos infláveis. O corpo venério
da santa feia. Aurélio morde. Pedro morde a língua sonhando no vazio, deitado de lado, conveniente, cada vez mais feio,
deslizando da cama grande à rede parangolada, sem asas, sem asas.

Ele vê um gato é o mesmo que ele imagina um gato. Os cães também têm bigodes. Do mesmo modo controlam suas
emoções, regulam as sensações dolorosas. Enxambram a consciência e voltam à estreitez cotidiana. A igreja sua os fungos
do centeio. Toda a dor refaz a sua origem, o mundo ociodenital regulado. É a senzala informatizada para prisioneiros
monolíngues. O mundo é música e química. O Rey miragem. A rata enredada nas lãs. As rãs desenhadas na Mata Atlântica
onde A Árvore frutifica; o Rey cospe cortesmente a maçã. Cospe caju, seu cérebro nada distingüe. Tudo é falso como assim
O Prometeu. Promessa é ordem. Ordem e promessa. Aurélio morde, a mordida rima. Tudo acaba no olho do vulcão. No
maior vulcão brasileiro. No furo do olho. Na busca do outro lado da ponte. Potes de Ouro. Mãe de Rey é cavalo-marinho.
Abelha pousando na flor explodindo. Pólen-trampa. Trampolim. Brado polêmica em metrapalavra retumbante. O coração d
ourado da lírica subtropical. Alvo castrado. Rim vagabundo. Cabra profana. A terra some e pára urubús vegetando.

Cláudio Teixeira Brux

« Voltar