Fazia tempo desde a primeira vez. O que sentia agora nem sabia explicar.
Um arrepio, um comichão por todos os dedos do pé e da mão,
como uma dormência repentina. Mas não havia nenhuma parte
de seu corpo dormindo, disso ela tinha certeza.
Na primeira vez não fora assim, tão intenso, interessante,
gostoso. Talvez por causa da companhia. Não houve muita escolha,
é verdade – não houve tempo. Sim, é preciso dar o
tempo necessário para o corpo acostumar-se, adaptar-se, entender
o movimento recíproco. Mas o outro não havia dado importância
a tais minúcias fundamentais.
Agora, fazia muito tempo que estavam juntos ali, sem desgrudarem um
do outro, e ela explorava todas as nuances daquela química. Lembrou-se
quando o viu, ainda no início da noite. Sabia que seria ele. Desta
vez, a escolha impôs-se. Nem foi preciso muito tempo. Um magnetismo
emanava dele, e ela era o oposto atraído.
Aos 17 anos e 68 dias, 185 haviam passado desde a última – de
fato, a primeira – vez. Como dito antes, não havia sido bom. Mas
desta vez, ela acertara em cheio. Ele a completara sem esforço,
sem perguntas, sem gestos desnecessários ou pressa. Muito menos
chegou ao fim antes do próprio.
Os olhos dele encontraram-na finalmente algumas horas depois dos dela
já estarem pacientemente esperando por eles. Fatalmente, ela sorriu
– mas depois dele, é claro! Ele aproximou-se sem hesitar, e sem
medo tocou-a levemente, e então ela sentiu seu calor, a força
de seu corpo, suas mãos igualmente tenazes e macias.
Ele a conduziu, pois ela era toda permissão, e não havia
ninguém mais quando chegaram àquele lugar mágico,
ele tomando seu corpo, envolvendo e puxando-a para junto de si. Seus seios
foram esmagados contra o tórax dele, destruindo rapidamente qualquer
pudor que, por ventura, ainda resistisse. A respiração no
pescoço dela, compassada, sobressaltava-se apenas nos movimentos
mais vigorosos, causando tsunamis de arrepios crescentes. Suas pernas roçavam,
enquanto ele virava-a de todos os jeitos, por todos os lados. O mundo girava,
mas ela não fazia parte dele, estava alçada a um lugar mais
alto e melhor.
Adivinhando seu desejo mais íntimo, ele a encarou antes do fim.
Seus olhos estavam brilhantes, o corpo quente, colado ao dela, suava enquanto
realizava os últimos volteios sem perder aquele ritmo perfeito.
Sim, pois o ritmo é 90% de tudo.
Finalmente, os corpos renderam-se ao cansaço, totalmente satisfeitos.
Então, ainda em seus braços, ela atirou o pescoço
para trás num último êxtase: — Ah..., como é
bom dançar!
Alexandre Ramôa