Aguada...

Chovia... chovia e chovia!

Seria castigo do dito dia maldito, em que com agonia; na seca terra que um dia, a plantação crescia; pediu chuva através de oração, sob o sol quente do sertão?
Maldição!

Suas preces, fervorosas, ecoaram aos céus com emoção; naquele instante sublime, sentindo o poder da fé, orou mais alto; e de fato, com sua devoção tamanha passou a acreditar na façanha de seus desejos e credos.
No canto esquerdo do olho, um gozo de lágrima furtiva molhou sua tez ressecada. Sua realidade, em verdade, era tão dura como a do solo; desbotada como a terra amarela; rachada como as rugas do barro seco; carente de ser regada...

Ardentemente esperava que a paisagem seca, recebesse um banho divino. Desatino acreditar que com o resultado, esperado, da terra produtiva, ela mulher viva, voltaria a ativa?
Será que na certa colheita certeira; que germinaria o trigo, ela com sua cor trigueira, traria faceira de volta o companheiro, também ressecado, coitado...?

Sabia que sua felicidade, dependia da chuva que temente do sol potente, enveredara-se por outras bandas... Tal qual o companheiro, sorrateiro, que procurava em paragens longuínguas, profícuas, embebedar suas mágoas em farras, culpando a terra seca entre tragos e afagos... de outras.

Proliferaria e colheria!

Suas preces teriam que funcionar! Reclamaria e oraria até que um dia sua sorte iria mudar.  Esperava um milagre; um bagre, no rio sem brio, que se deixou morrer sedento. Queria plantar e colher. Ter colher de pau. Comer lebre temperada, com sal. E até uma casa igual a do calendário, lendário, da parede de barro do casebre, feito quadro pendurado.

E chorava... implorava, orava!

Ao cair as lágrimas no chão, raios e trovões riscaram o infinito horizonte; jarros de nuvens carregadas despejaram dilúvios turvos, lavaram a terra ressecada, encharcaram rios e lagos, inundaram barracos e casebres, abririram feridas de lodos, de lama... Redemoinhos de enchentes, levaram o toldo, a cama...

E agora? Reclama?
Como estancar o bem que só mal faz?
Existiria uma forma sagaz, de pedir à chuva para se enxugar e deixar o sol novamente arder? O que fazer?

Cansada, esmorecida, ensopada; pensa na sopa, não comida, que a enxurrada retirou de sua boca...  Que louca!

Cheia daquela cheia, que enchia e enchia; veio-lhe a idéia!
Séria, resolveu que a única maneira de fazer a chuva parar, era se encharcar ao redor de uma fogueira imaginária, e se pôr a dançar, pedindo para o sol voltar!

E dançou.... dançou e dançou!

Angela Bretas

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