DIANA

            A promotora vive sozinha numa mansão no alto da Gávea. Sem gatos e sem cachorros. Apenas o criado que é caseiro, mordomo, cozinheiro de copa e fogão. Faz faxina e jardinagem. Leão-de-chácara. E nas horas vagas, massagista.
            Como em toda manhão de sol, madame fica nua na sua piscina azul-cobalto, de águas transparentes, traçada em forma de caracol. É mulher de meia-idade, bem tratada, loura, olhos escuros. Corpo esguio de quem faz dieta e ginástica.
            Como em toda manhão de sol, se queima de todos os lados. Sol dos trópicos. Quase quente a devorar-lhe o corpo. A promotora toca o sino e aparece o criado. Porte impecável, uniforme de botões, traz a laranjada em bandeja de prata, forrada com pano de linho. Sem nem olhar para a patroa, deixa o pedido numa mesa ao lado. E a patroa fica mirando os céus, as corcovas dos montes verdes, as aves que voltejam nas árvores vizinhas. E devagar bebe o suco. Joga a toalha às costas e se dirige para seu quarto. O criado vem atrás.
            Como em toda manhã, ele cumpre o ritual, se aproxima do corpo da promotora e fricciona músculos, pescoço, espinha dorsal. Deitada na cama, ela inspira, respira, e se vira de um lado para o outro. Ao sinal, ele despe o uniforme e se viram de um lado para o outro, juntos respiram, suspiram.
            Como em toda manhã, Diana dispena o criado, toma cuidadoso banho de chuveiro, se prepara com esmero, apanha o carro de luxo, dispensa chofer e segue para o Tribunal a fim de solucionar os casos da Justiça Pública.

Leda Miranda Hühne

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