Do meu esconderijo, podia notar a batalha desigual que se travava. O dragão, enorme, os braços abertos em asas de morcego, avançou com os olhos irados sobre o jovem guerreiro. Este, assustado, escondeu-se atrás do que me parecia ser um carvalho centenário, pondo-se a salvo por alguns instantes das labaredas que saíam do feroz animal.
Devido provavelmente a seu enorme tamanho, o odioso animal não conseguiu contornar o obstáculo imóvel que mantinha a salvo o seu contendor.
Num salto fabuloso, o guerreiro postou-se às costas do dragão.
– Em nome do Rei! – gritou.
Aparentemente surpreso pela agilidade do salto e pelo desafio recebido, o dragão virou-se, devagar, urrando de maneira assustadora.
Vagarosamente, as pernas entreabertas, o guerreiro sacou sua espada de lâmina invisível, colocou-o junto aos lábios e beijou-a. O dragão, aparentando indiferença, parecia encará-lo desdenhosamente.
A batalha chegava ao que me parecia ser o seu ápice. O dragão, irado, moveu a cabeça para ambos os lados antes de soltar uma nova chama. O guerreiro, inabalável, gritou:
– Poder de Água!!
E da espada encantada jorrou algo que penso ser água, pois teve o poder de apagar a chama maléfica. Não vi, mas creio que a fera, batendo suas enormes asas, tenha fugido dali.
– Chega... – disse o guerreiro, jogando sua espada no chão. Em seguida, retirou-se daquele cenário de lutas.
As forças do bem haviam vencido.
E eu, aliviado, finalmente saí do meu esconderijo. Dando dois passos, apanhei do chão o bicho de pelúcia, pobre dragão, e a espada de plástico que havia levado meu filho à vitória.
Amanhã, haveria nova batalha.
Rafael Chedid