A ciência não sabia explicar por que era daquele jeito. Provavelmente, se soubesse daquele jeito não seria, haveria uma cura, mas cura não havia porque a ciência não sabia, então o menino seguia suando amarelo.

            Nas horas de bebê não houve maiores contratempos, creditava-se o amarelo ao xixi sem problemas. Mas o tempo foi passando e as desculpas foram acabando.

            Educação Física no colégio era um tormento; se ele corria, corria nele aquela água toda amarela. Só jogava bola com a camisa do Brasil – e sempre dizia que ela desbotava.

            Na adolescência, ia chegando perto de uma menina, ia elaborando o que falar, ia falando, ia se aproximando mais, ia ficando amarelo. Aí aproveitava e ficava vermelho também, de vergonha.

            Ficou adulto e arrumou um emprego num escritório com ar condicionado. Mostrou talento, foi promovido, foi ganhando dinheiro até um dia em que uma recepcionista, não sei por que recepcionistas se metem nessas coisas, uma recepcionista sem querer ligou o ar quente. Não se admitiam empregados que suavam amarelo naquele escritório, ele foi demitido.

            Procurou um cirurgião plástico. Como não havia como ele deixar de ter o suor amarelo, pediu que o deixassem com cara de japonês. Pronto. Depois, começou a andar cheio de blusas no calor, muito mais cheio ainda no frio, suava baldes. Morreu de desidratação.

            No velório, as pessoas olhavam para o caixão frio e achavam estranho aquele japonês que não era amarelo.

Bruno Bracco

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