Não sabia como usar as palavras, de forma a não chocar, na minha brusca iniciativa de romper um relacionamento de vinte e cinco anos.
De repente parecia que havia nuvens dispersas em todas as áreas por onde transitasse. Uma sensação de inutilidade, de beco sem saída... A única explicação plausível estaria no enfraquecimento desse caso de amor. Havia perdido toda essência. Insosso, sem ritmo, vazio.
Então, fantasiei-me de lamúrias, deitei no sofá fingindo ânsias do que já não existia, para que desse o exato tom: provar que nada mais havia para que continuássemos naquele faz-de-conta.
Ele me olhou fixamente, levantou as sobrancelhas e disse que ultimamente eu estava parecendo maluca, e disso ele andava farto. Ainda frisou que, a bem da verdade, não tinha mais nenhum tesão por mim.
Pior é que o danado estava bonito! Naquela jaqueta importada... com perfume Calvin Klein...
Fechou a porta, e através da janela ainda o vi dobrar a esquina.
Seu cheiro impregnara o quarto, enquanto uma perplexidade incomensurável tomava conta de mim, sem nenhuma cerimônia.
Belvedere