Estou cá eu, com esse estúpido gosto bobo de ressaca na minha cabeça.
É sábado, é cedo, nada tenho a fazer que me faça parecer que, realmente, precisa, na minha precisão, ser feito.
Deus, hoje, de nada grandioso, como de praxe, me incumbiu; porque Ele faz isso?
O som, de onde estou, é bom, é boa a música, são bons os pensamentos que teimam em ser bons.
Ouço a versão do U2 para Night & Day do Porter, imortalizada
pelo nosso saudosíssimo Sinatra. (Viram como sou íntimo dos
dois?).
Pois então...
Sigo cá, compenetrado em escrever o que se passa, ou impassa, em meu exo-eu e merece, de fato, uma crônica invulgar.
Não encontrei nada indigno de nota, e tornou-se, por isso, vastíssimo
o material. Pus-me a rebuscar nas velhas-sofridas memórias,
esse combustível que nada consome.
Lembrei-me de Sonia - nome fictício utilizado para não
comprometer a frondosa vida conjugal da citada- e, tenho certeza, mesmo
sabendo que ter certeza é, de fato, uma das grandes estupidezes
que retroalimentam nosso ego – e dele falaremos mais tarde
como se não tivéssemos, já falado – dissimuladamente.
Pois bem, perdi o fio; voltemos a Sonia:
Lembrei-me o quanto nos parecemos e como me faziam chorar os solos de
violino, e nisso não nos parecíamos, pois ela nunca
entendeu o porque da minha emoção, e me achava piegas
por mandar poesias que não eram minhas; mandava - como ela gostava
de mandar!- escrever poesias minhas: “be yourself motherfucker”, ela
dizia.
Que engraçado...
Mas eu nunca fui poeta, minha fúria nunca me permitiu ordenar
os versos como deviam ser ordenados, nem filtrar, com gênio,
meu coração.
Isso era Sonia, um regulador intestinal.
Não, não quero falar mal de Sonia; permitam-me a licença
de compara-la a tão infamada classe de medicamento, pois é
exatamente essa a ideal impressão que guardo dela.
Porque discriminamos tanto o que saí de nós? Se fossemos
tão criteriosos para selecionar o que entra certamente outras seriam
as Escrituras e a própria realidade mesma sobre, e sob, o firmamento.
Sonia:
É uma guerreira, Sonia, não que não seja uma vagabunda, mas que é uma guerreira, isso, sim, é inegável.
Dia desses, revendo “Laranja Mecânica” do Kubrik, simpatizei muito
mesmo com o personagem protagonista, me foge seu nome
agora, mas, o que importa é que constatei uma certa comunhão
de sentimentos com ele, uma certa comunhão de idéias, isso
é
confessional aos leitores; principalmente quando ele aceita, ao final
da peça, que a hipocrisia é à base da sociedade, e
sem ela
nada se faz e nada, nem ninguém, pode seguir.
Sonia nada tem com isso, claro, pensarão vocês.
Engano!
Sonia é uma escola de hipocrisia, portanto grande sementeira, esteio e modelo para as gerações vindouras.
Não me pego mais ao assunto; queria,em verdade, falar mal de
Sonia, torna-la desprezível as vistas públicas, enxovalhar,
insultar,
morder, furar... mas não.
Talvez a prece de um de meus irmãos tenha ressoado nos pavilhões
aonde habita o Altíssimo, e Ele me tenha trazido, novamente,
a razão.
Barry White toca na eletróla; me alegro.
“You’re my everything” …
O corretor automático do Word desconhece a palavra “eletróla”; eu mesmo duvido da grafia, aliás, como duvido de muitas coisas.
Vejam a que ponto cheguei, e como, realmente, a vida se aparenta da literatura.
Sempre caminhamos cegos, na escuridão ou ofuscados por um brilho
intenso que não nos permite ver o que há que ser visto e,
claro, acabamos chegando ao final da crônica sem ter dito nada
e fugindo completamente ao propósito inicial -isso quando o
temos- o que, folgo em dizer, é muito raro.
Felizes amigos, dia desses mando noticias de Sonia e vos faço perder mais uns minutos lendo esse tumulto, esse mundo, essa vida.
Um abraço.
Alejandro da Costa Carriles