— Alô!
— Oi, tudo bem?
— Tudo e você?
— Tudo certo! Então... eu
hoje comecei a pensar em você e fiquei com saudades, sabe aquela
saudade quadrada, que não desce pela garganta e que faz a gente
ficar olhando com os olhos vidrados no nada? Então é assim
que eu estou... Fico vislumbrando seu sorriso maroto e você desfilando
na praia com seu novo piercing no umbigo. Que idéia você foi
ter, hein? (Riso fraquinho do outro lado do telefone)
— Então, eu fiquei imaginando que inseto eu gostaria de ser
para estar ao seu lado nesse momento. Pensei em um pernilongo, pois pelo
menos estaria ao seu lado no quarto e poderia verificar se o seu sono está
tranqüilo e se o seu corpo está coberto ou exposto.
Um pernilongo não daria certo. Imagine você com o seu
geniozinho calmo com um pernilongo a lhe atormentar feito um violino desafinado.
Provavelmente me chaparia na parede, dizendo algumas palavras gentis...
(risos mais fortes do outro lado do telefone)
— Pensei em uma abelha voando por perto enquanto você toma seu
café da manhã. Assim eu saberia quem está ao seu lado,
se você está se alimentando bem ou se ainda está fazendo
aquela dieta maluca, aquela de não comer nada! Mas não daria
certo também, primeiro porque você ouve pagode de manhã
e isso nem por você eu suporto. Depois, se você acordasse com
“aquele” humor e sem vontade nem de falar, fatalmente eu receberia uma
rajada de pano de prato e cairia no chão. (risada gostosa do outro
lado do telefone)
— Resolvi que seria um vagalume, pois poderia acender minha lanterna
e iluminaria seu caminho quando você estivesse saindo para as baladas
com suas novas amigas... Gostaria de ver você com aquela calça
jeans pescador que deixa à mostra seu tornozelo tatuado e aquela
blusinha curta que mostra esse “piercing” horroroso no umbigo. Durma-se
com essa ousadia! Pode falar que é ciúmes... Mas, não
daria certo também, você não é lá muito
chegada à roça e sertão e acho que nunca viu um vagalume
antes. Talvez ficasse com um pouco de medo e... zap... me acertaria com
o salto de sua sandália. (uma boa risada do outro lado do telefone)
— Aí me lembrei da tatuagem de borboleta em seu tornozelo e
decidi. Vou ser uma borboleta. Eu sei que isso parece meio delicado demais
para o seu temperamento, mas você sabe que eu sou assim... Pelo menos
seria um inseto mais útil, mais livre, com mais estilo, eu diria
“fashion” mesmo. Poderia acompanhá-la a todos os lugares e você
me olharia com um certo encanto.
Pensando bem, a borboleta lembra você, assim toda colorida, leve,
livre e sempre borboleteando. Fica perto por muito pouco tempo, mas por
onde passa espalha sua vivacidade.
Fica então decidido, serei uma borboleta azul e pousarei em
seu tornozelo de modo que você não possa saber se sou eu ou
simplesmente a sua tatuagem.
— Mãe, preciso desligar
agora. Não exagera, eu só vim passar um final de semana no
Guarujá, amanhã tô de volta!
— Tá bom filha! Vai ser
borboleta na vida! Te amo.
— Eu também mãe!
Leila de Barros