VIVA A DIFERENÇA!

Eu vivi minha infância em meio à revolução sexual e ao movimento de emancipação feminina, nos anos de 1960...
Betty Friedman gritava de um lado, e Simone de Beauvoir de outro: Igualdade! Eu não entendia bem o que aquilo significava, e ainda era muito novo para dizer: "Ôba!", quando algumas arrancaram seus sutiãs em praça pública... Além disso, minha mãe nos mantinha bastante ocupados, eu e meus dois irmãos mais velhos: Depois das atividades escolares, nós a auxiliávamos nas tarefas domésticas, inclusive na cozinha! Isso foi uma tremenda"mão-na-roda", pois nos livrou do cardápio de dois itens: ovos mexidos e macarrão com salsicha, padrão para dez entre dez dos estudantes do sexo masculino... Ah, ela também era nossa consultora para trabalhos escolares...
Minhas irmãs vieram mais tarde, e eu, caçula dos homens, fui o irmão mais velho delas... Acompanhei todas as fases da infância e adolescência delas, e, com certeza, aprendi mais do que ensinei. Sempre nos tratamos como iguais! Por conta disso, desde criança, sempre achei um absurdo quando via filmes e novelas onde mulheres eram mal-tratadas, apenas por serem mulheres. Não via nenhum motivo racional para aquilo!
Quando comecei a trabalhar, aos quinze anos de idade, meus serviços eram revisados por duas alunas da mesma escola técnica onde eu estudava. Noutro emprego, dos dezesseis aos dezoito anos, trabalhei com quatro estagiárias de arquitetura. Durante o curso de Engenharia Civil, tive várias professoras e monitoras, além de várias colegas... Nunca tivemos dúvidas sobre a capacidade intelectual e motivação, uns dos outros.
Já graduado, fui colega, subordinado e chefe de mulheres. Tive altos e baixos nesses relacionamentos. Isso, aliás, independe de sexo, embora algumas insistam em atribuir seus contratempos a "boicotes" da ala masculina...  Só me incomoda, de fato, ver mulheres imitarem o que os homens têm de pior, como se estupidez e grosseria fossem qualidades nobres...
Outro dia, ouvi duas docentes da área de humanas ponderarem sobre esse comportamento análogo. Elas concluíram que ele era devido ao fato de, durante o movimento de emancipação, as mulheres terem adotado o comportamento masculino como referência e meta. Afinal, ele era o único parâmetro de que dispunham na sociedade ocidental! Já os homens, desnorteados com essa nova realidade, perderam a referência! Muitos ainda estão perdidos, a considerar pelo comportamento de alguns "espécimes" que circulam por aí... Assim, as mulheres foram ocupando cada vez mais espaço, embora nem sempre com o devido reconhecimento e remuneração. Alguns alegam que isso é devido às limitações físicas do sexo feminino... Talvez por isso algumas mulheres também passaram a tentar parecer, fisicamente, com os homens... É verdade que a escritora George Sand adotou esse pseudônimo e vestiu-se com roupas masculinas, como uma forma de protesto, contra a sociedade machista européia, do Século XIX; mas, hoje existem outros meios disponíveis, ao menos teoricamente.
O fato é que, embora consciente de que ainda existe discriminação — e um longo caminho a ser percorrido para superá-la —, nunca tive problemas de relacionamento profissional com mulheres. Por isso mesmo, não aceito que me culpem pela tirania e abusos do passado! O que vale para mim é o presente que, no meu caso, é baseado em respeito ao ser humano, que aprendi desde a infância. Só esqueço dessa lógica quando o assunto é amor! Nesse âmbito eu confesso que capitulei incondicionalmente quando conheci minha esposa! Mas, apesar de minha rendição consciente, nossa relação é de diálogo e cumplicidade!
Dizem que quando a gente ama, fica parecido com a pessoa amada... Já falaram isso de nós! Só discordei porque ela é muito bonita, graças a Deus! Sei que o clamor pela igualdade ainda é justificado! Ainda existe muito anacronismo machista e troglodita que recorre até à ciência e à religião para justificar e tirar proveito das "diferenças"... Pois, que venha a igualdade plena! Mas, que ela não signifique a perda do que sempre foi bom, para ambos os sexos! Nesse sentido: Viva a diferença!

Adilson Luiz Gonçalves