DIA DO ÍNDIO, DOS ÍNDIOS... DIAS DE QUEM?

Leio que mais um indiozinho brasileiro morre de subnutição! Isso é inconcebível. Somos descendentes de um belo povo livre que encantou os europeus aqui chegaram, após o "descobrimento"... Fartura e saúde haviam sobejamente.
A "Mãe da Pátria", a índia Catarina Paraguaçu, que se uniu ao náufrago português Diogo Álvares, o Caramuru, misturou, assim como suas irmãs, um sangue limpo de doenças (antigamente chamadas venéreas, as DST), puro, diferente dos enfraquecidos por cruzamentos consanguíneos)... Frutas, caça, pesca, agricultura de subsistência simples, mas eficaz... Nenhuma gripe, as viroses trazidas por homens brancos, desde então, até aos hodiernos, que em nome de tudo: fé, governos e até uma pseudo-proteção, aproximam-se das aldeias, destroem a cultura milenar, infectam, contaminam, descarecterizam as orgulhosas raças da belíssima Terra Brasilis! Índios suicidam-se em massa, como fazem os elefantes. Doam seu espírito aos espíritos da mata, para que protejam a natureza...
Um dia, nos anos noventa, fui participar de um congresso de "Psicólogos da Amazônia", recém chegada a Belém do Pará. Ao entrar no auditório, um tantinho atrasada, ouvi a bela voz de um belo homem, dizendo: "Onde havia aldeias, hoje há tanques militares". Sua voz dorida, reclamava contra o projeto Calha Norte. Índio estudado, certo, mas lutando por suas origens, por seu povo, o Pedro. Eliane Potiguara, que muitos conhecem da Internet, também luta pela população indígena. Eles querem terras. As terras que herdaram de seus antepassados. Que vergonha deixar um legítimo dono da Terra morrer de inanição. Desnutrição é vergonha nacional. Para quem tinha toda sorte de alimentos saudáveis, fitoterapia e xamanismo, vergonha maior ainda.
A tristeza grassa nos corações de quem respeita a natureza e precisa dela para ser feliz. Como dói assistir pela Tv, em reuniões, como o Quarup, índios dançando vestidos de calções tectel, nylon, calçados com tênis... Peças que poderiam ser usadas após o cerimonial... Claro, não há nada de mais em progredir! Mas se tiram algo, devem idenizar. Índio é símbolo de riqueza plena, natural. Como podem suas crianças estarem morrendo desnutridas? Os adultos estrem  esfarrapados? Claro há tribos que conseguiram ganhar dinheiro, desaculturaram-se, renderam  -se ao vil metal. Mas pelo menos, comem. Os demais sofrem de falta básica da infraestrutura necessária à sobrevivência digna. Como canta baby Consuelo, "Todo dia, era Dia de Índio e/ agora eles só têm o dia dezenove de abril"...
Ao falar de índios lembro o que mamãe contava: quando moramos em Japurá, em 1950, na fronteira com a Colômbia, recebemos a visita de índios catequizados, vieram com o padre, o cacique e sua jovem esposa Rosa, recém-saída dos ritos de puberdade, quando fio a fio de cabelo são arrancados das meninas. Haviam pedido que as mulheres brancas mandassem roupas para os índios não chegarem nus. Ao notar que o vestido de mamãe ficava muito largo na Rosa, uma menina, ainda, mamãe pediu ao índio que falava português, para explicar à Rosa, que ela poderia apertá-lo na máquina de costura Singer. A mulher do cacique, então, imediatamente, retirou, pelo alto da cabeça, a veste, para ela, por certo incômoda, ficando em sua gloriosa e inocente nudez, na frente do padre, dos brancos presentes... Ou seja, a roupagem imposta não os livrava de seus costumes... Lembro uma porção de outros flashs: * Tocam fogo, em Brasília, no índio Galdino. * Sting vem de outro País e leva Raoni para falar disso tudo que vem acontecendo na Hiloea Brasileira, conforme o alemão Humboldt apregoava... * Cacique Juruna se elege deputado, anda com gravador para provar o que lhe dizem/prometem-e depois morre pobre, o que não acontece com nenhum político branco depois. * Em pequena eu abria uma revista "O Cruzeiro" para ler o amor de um branco por Diacuí, a indiazinha, também desaculturada. * A  carta de Caminha, falando da nudez das mulheres e dos homens aqui encontrados, que não cobriam "as partes". Nenhuma persona, nenhuma roupa para camuflar-lhes a sinceridade, o riso fácil... * Criancinhas de olhos amendoados, que antes brincavam com animaizinhos de estimação, estão em holocausto, se findando. Reduz-se todo   um contingente de proprietários legítimos... Isso me diz mais que consigo falar...
Acho que a mãe natureza está furiosa. Ou desesperada. E nós, o que devemos/podemos fazer? Hoje é dia 19 de abril, Dia do Índio. Diadoíndiodiadoíndiodiadoíndio...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes