AS LIÇÕES DA NATUREZA
Salvar o meio ambiente significa salvar a humanidade da extinção.E a salvação humana prosseguirá sendo uma utopia enquanto não considerada, também, como auto-salvação.
A preocupação com o ambiente é uma modernidade positiva e construtiva porque é uma preocupação com o ser humano e desvia a nossa atenção de ódios e rancores ancestrais, da desmedida ambição e nos interna no futuro buscando melhores condições de vida no planeta para as gerações futuras.
Nestes tempos de violenta modernidade, o que se observa é o afastamento entre as pessoas e os povos, um distanciamento incompreensível provocado pela ignorância e pelos preconceitos. Assim como a corrida espacial desviou a atenção das duas grandes potências na década de sessenta, que na iminência do confronto olharam para o espaço e esqueceram-se de suas diferenças terrestres, ocuparmo-nos com o meio ambiente pode ser um fator de união de esforços humanos para a melhoria das relações com a Natureza e entre os seres humanos.
Apesar das agressões desferidas pelo ser humano, a Natureza continua sendo pródiga em suas lições. Fala-nos de renovação e continuidade, simplicidade e silêncio, atividade e beleza; as lições contidas nela são mais eloqüentes que tudo quanto os livros possam ensinar. Toda a obra humana poderia ser recriada por ser um reflexo de uma obra maior estampada na Natureza. Muitos valorizam mais as obras humanas, sem perceber que elas são um pálido reflexo de uma obra maior.
Apesar da incompreensão, da soberba e da teimosia humana em continuar trilhando pela equivocada senda do materialismo e do desrespeito à Criação, a Natureza dá-nos sempre uma grande lição de paciência. Todas as manhãs o esquecido sol ilumina os rostos e os corações humanos, parecendo advertir ao homem que sua inteligência necessita ser iluminada com os potentes raios do conhecimento superior. Todo amanhecer, mesmo nas sufocantes concentrações urbanas, sugere harmonia, atividade, beleza e esperança.
O afastamento da Natureza é uma das causas da angústia, do vazio e do sofrimento que experimenta o homem moderno. Aproximar-se dela deveria ser uma reverência diária do aprendiz que busca realizar os ensinamentos estampados nesta parte da obra divina. E se não se tem olhos para ver estes ensinamentos, será necessário ser instruído na arte de ver o invisível.
Desenvolvimento sustentável, além de responsabilidade social, crescimento inteligente e cuidado com o meio ambiente deveria significar desenvolvimento humano, solidariedade, respeito às diferenças e fraternidade. Nenhum país pode ser considerado desenvolvido ao arvorar-se na condição de manipulador de idéias e pensamentos para subjugar os demais. O mesmo acontece com as pessoas; a imposição traz consigo a impostura, presunção de uma superioridade fictícia; as pessoas inteligentes expõem ao invés de impor.
A crise ecológica que presenciamos é mais um sintoma da grave crise espiritual por que passa a humanidade. O ser humano desentendeu-se consigo mesmo, com os seus semelhantes e com o planeta Terra; as guerras têm suas causas neste desequilíbrio entre suas naturezas física e espiritual.
Embora sendo um ser indivisível, o homem traz consigo uma natureza superior que pode ter presença ativa na vida através da organização de seu mecanismo psicológico. E ninguém poderá fazer isto por ele. Essa organização é o princípio do autoconhecimento que lhe permitirá ter um domínio sobre o que pensa e sente, convivendo melhor consigo mesmo e com os demais.
As degradações das relações humanas nada mais são do que o sintoma do grande vazio promovido pela ausência daquela chama superior que o ser humano traz consigo, mas que jaz adormecida como a bela princesa dos contos infantis.
Quando boa parte da humanidade despertar do sono da indiferença e da inconsciência e puder influenciar positivamente as mentes incipientes que aspiram à paz, à felicidade e aos conhecimentos, a revolução ecológica – espiritual far-se-á sentir em muitas partes e a humanidade terá corrigido o rumo equivocado em que se lançou pelos obscuros caminhos do materialismo e da superstição.
Nagib Anderáos Neto