Escrever és para mim uma forma intima de oração qual dedico a alma. E alma em si tem tanto a dizer. E tudo quanto sinto na alma, busco na concretude dos signos a matéria a qual eu possa compor minha própria palavra. Escrever então é sentir, mas não somente sentir, mas sentir com a alma, os momentos, as coisas, as vozes que flutuam no inconsciente, as luzes, os coros, os anjos invisíveis, as crianças; escrever tem a ver com os pássaros e os seus saberes mais secretos, com os ouvidos e seus ouvires; escrever então és para mim, qual um grito que soa na tentativa que o mundo assim o possa ouvir... gritos... as almas gritam, em seus silêncios, mesmo que submersa na metrópole do grito, mesmo que perdida a uma turba de elefantes rosa, ou de corpos despassados. Escrever é a conexão do homem a alma , a palavra é a flecha que rompe a barreira do som e aporta neste porto silencioso, que triste verte suas lágrimas em forma de sentir que cristalizam-se e da palavra retomam uma nova forma. Sentir é a matéria prima da escrita, que enquanto pensamento é alma, enquanto palavra é corpo, o próprio verbo encarnado.
Escrever então não é uma oração? Cada palavra materializa o espírito, rebusca na imagem a feição da alma a verossimilhança do sentir; enquanto que o artesão da palavra empresta sua destra para fecundar o corpo destas almas-palavras; que enquanto sentir, são almas e enquanto palavras são corpos.
Antigamente minhas palavras eram um arcabouço dos quais juntava dos escritos alheios, eram pedaços de um corpo morto e sem alma sob as quais eu não sentia. Escrever é ser mais que um signo, é ter vida ainda que não possa compô-la, é dizer da alma e com a alma. Escrever é edificar o verso em poemas, ainda que as letras se percam, a alma tratará de perpetuar o verso doutra forma, no corpo duma canção, na memória, na face duma criança, na fotografia em forma de uma imagem. Quando se escreve com a alma o corpo é a palavra, é som e imagem.
E tudo que sei dizer é palavra. E tudo que eu sinto não sei dizer se não for com palavras, ainda que elas me faltem, ainda que eu não possa encarná-las, mesmo assim serão palavras da alma.
Darlan Alberto Tupinambá Araújo Padilha