Minha Fantasia

Quis vestir uma roupa, colocar a persona e sair. Era tarde, o tempo estava ruim, engrossara-me as formas, um tempo do futuro e a vestimenta cheirava a naftalina.

Então, vasculhei armários e todas as gavetas, na dúvida a estante de livros também. Quem sabe serviria uma de papel? Aquele crepom amarelo... o papel toalha florido bem que seria divertido vestir...

Será que vestir é a mesma coisa que esconder? Ou será o mesmo que exibir? Na dúvida, pensei vestir a metade e deixar o resto desnudo.

Mas, e se o que está de fora for exatamente o oposto do que está por dentro, estou ocultando a fantasia ou vestindo o sonho?

Assim não vai dar; ninguém chega à avenida se medita tanto tempo; o que é suficiente para tudo o que brilhe passar.

A bateria... Bem que gostaria de fazer a marcação do samba, inexoravelmente exata servindo de base para a explicitação de todas as harmonias.

Adereços, alegorias, a ala das baianas com rendas e saias rodadas, e isso até daria mais beleza a obesidade e ânimo a (in) saciedade.

Mas do que me fantasio? Escolha dolorosa... Quisera ser menina, mas com cabeça de mulher... quisera mostrar a negra que dorme dentro de mim, mas a cabocla teima em se expressar misturando as origens.

E se eu fantasiar só pelo lado de dentro? Ah! Isso seria poesia, e não prosa, prejudicando o estilo.

 

 

 

E por falar... brega ou chique, antigo ou novo? Com muita coisa assim para escolher não dá para tomar uma decisão. É por isso que a maior parte das pessoas vai de cara lavada, olhar umas poucas que desfilam suas fantasias aos blocos, com um enredo pré-determinado, escolhido pelo carnavalesco que pensa pelo grupo e ensaia. E todo mundo fica feliz em ser ator, pois, não é necessário que todos sejam autores.

Sim, mas então para que a fantasia? O ano inteiro somos os atores sociais de nossas vidas e o carnaval poderia servir para colocar para fora a fera que ruge dentro de cada um - Ao menos uma vez ao ano!

E essa fera está rugindo agora. Quer protestar contra o que é imposto, o que é comercializado, o que é exibido, o que é ocultado, o que é eleito, o que é preso, o que é liberado, abaixo os que respondem em liberdade, os reincidentes!

Contra as comissões de frente, contra as comissões julgadoras, os agressores, sabotadores, contraventores e, outros que tais.

Também contra os sossegados, comportados, acomodados.

Será que vestir palhaço é lugar comum?

Nazilda Corrêa