Comendo confetes
Meu melhor carnaval foi aos nove anos com fantasia e tudo, no baile infantil do maior Clube da Cidade. Foi o melhor porque foi quando eu descobri o que era carnaval. Uma imagem que foi mudando com o tempo mas que ficou gravada como um sabor de infância.
Nem sei como minha mãe deixou, acho que foi a vizinha que levou toda a criançada do bairro.
Lembro que disseram que eu iria e logo perguntei o que afinal teria que fazer lá. - Pular e dançar – responderam.
Aí mesmo que não entendi nada, pois nunca tinha sido permitido pular assim fora de casa.
Para minha maior perplexidade ganhei dinheiro para refrigerante, confete e serpentina. Confete e serpentina? Achei melhor não perguntar.
No salão recebi liberdade total, coisa desconhecida até então. No fim do baile nos encontraríamos do lado esquerdo da bilheteria.
Adorei tudo. As fantasias, as músicas, o confete e as serpentinas. Pular muito, encontrar amigas do colégio.
Quase no fim do baile, uma guria de outra turma veio sorrindo e disse: - Abre a boca e feche os olhos.
Atendi prontamente, acreditando ser mais uma surpresa carnavalesca. Não era, ou era de mau gosto. Ela encheu minha boca de confete e saiu rindo com as amigas.
Coisa horrível. Aprendi que no Carnaval também tem dessas coisas.
Marcou tanto, que mesmo depois de adulta eu lembro como um alerta para não confiar demais. Passei a controlar minha diversão com inteligência. Isso incluiu a bebida e as companhias.
Acho que o gostinho do confete na garganta foi mais forte do que a liberdade conquistada tão rapidamente.
Continuo gostando de Carnaval, adorando as músicas, fantasias, desfiles.
Só não estou comendo mais confetes.
Ana Mello