A REDENÇÃO DO OVO

Agora foi a vez do ovo. Depois de décadas relegado ao papel nada agradável de vilão por provocar aumento dos níveis de colesterol, ele de repente passou a se enquadrar na categoria dos superalimentos.

Quem acompanha o noticiário científico com atenção já sabe que é mais do que comum que um alimento mude de status com freqüência. O café, por exemplo, passa constantemente de herói a vilão e vice-versa. Agora mesmo, foi declarado saudável. Ultimamente, o que tido bombardeado é o leite, que provoca isso, retém aquilo e impede acolá.

O que me parece é que muita gente da comunidade científica poderia aprender mais com as pessoas simples, o que pouparia tempo e verbas gigantescas. Perguntem a um sujeito que trabalhou a vida inteira na roça, por exemplo, e hoje, já em idade avançada, goza de perfeita saúde, inclusive tomando leite, comendo ovos, bebendo café e, em alguns casos, fumando um cigarrinho de palha e tomando uma pinga.

Um deles me diz, quando pergunto a respeito do tema deste artigo: “Na roça, a carne era conservada na banha de porco e ninguém sabia o que era colesterol”. No entanto, ele complementa com aquilo que parece profundamente óbvio: “Na roça, começávamos a trabalhar de madrugada, não dava tempo para a gordura se acumular”. Ou seja: você não precisa se preocupar tanto com alimentação se realizar atividades físicas regulares, mas para quem leva aquela vidinha carro-escritório-televisão-laptop, até uma folha de alface cai mal.

Voltando ao ovo, o que fizeram com ele nada mais foi do que uma covardia. Quem tem mais de 30 cresceu ouvindo a mãe mandar comer ovo para ficar forte e inteligente. E a gemada de manhã, e a caracu com ovo (muitas vezes colorido), e o pão francês com ovo na chapa, acompanhado de seu parceiro de propaganda maledicente, o café? E, por fim, cadê os cinco ovos que os valentões dos filmes de bang-bang comiam alegremente nos saloons após uma briga.

Tudo isso caiu por terra quando condenaram covardemente o ovo por ter muito colesterol. Agora, quem se arrisca a comer dois (!) ovos por dia já é severamente repreendido. Pois o que os pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram é que, entre diversas outras qualidades, o ovo agora é bom para o coração e fundamental para evitar derramems problemas de visão – talvez até mais do que a cenoura.

Portanto, aproveitemos a brecha, pois amanhã tudo pode mudar. E aguardemos a redenção do leite.

André Luis Mansur