DIA DO ADVOGADO E MEU PAI

               Essa é uma data especial para mim. Minha família se dividia entre advogados e médicos, sendo que muitos deles escritores e jornalistas. E a figura que sempre vi como o legítimo representante dessa classe da justiça foi  meu pai.

                Era uma figura ímpar. Muitas vezes como qualquer filho tive divergências com ele.Mas amava-o e admirava-o profundamente.Em muitas e muitas  ocasiões ficava considerando como era enaltecido em seu meio e como as pessoas tinham nele uma cega confiança. Dedicava-se com um carinho e profissionalismo profundo a seus clientes e como era Procurador da Fazenda também, suas atividades eram demasiadamente dirigidas ao Direito.

               Para mim, naquela época era um legítimo representante de uma “entidade superior.”
               
               Aproximando-se o dia que homenageia o advogado  lembro-me com especial carinho de meu pai e avô materno. Mas hoje vou falar mais de meu pai para que em outra oportunidade relembre com amplidão a de meu querido avô.

               Alto e magro, muito elegante o rosto de traços marcantes e olhos profundamente azuis e penetrantes que chegavam a  esfriar o coração quando ele fitava com severidade mas sabia derretê-lo nas horas de conforto e demonstrações de amor.

               Gostava de ir ao seu escritório imenso onde se juntavam as salas dos assistentes e estagiários formando uma plêiade dos profissionais do direito.

               Na entrada a secretária que sempre me recepcionava com alegria e um sorriso animado, convidavam-me ao convívio num ambiente que eu amava.

               Aprendi com ele que ser advogado era ser justo, ético e possuir um caráter reto, indomável, consciente e sempre disposto a ouvir as razões que se lhe apresentavam. Algumas vezes, a pedido meu, acompanhava-o ao Tribunal de Justiça onde se realizavam as audiências e me fascinava com  as vestes dos advogados e a toga do juiz que simbolizavam poder e justiça naquele momento que o julgamento era feito. Ali de longe, meu pai parecia um ser “onipotente”.

               Na minha casa, muita tarde já, de madrugada, quem chegasse até seu gabinete, o veria trabalhando e escrevendo. Sua profissão era exercida com tanto amor que até nós, crianças, compreendíamos a vibração que parecia emanar de sua figura já por si só imponente.

               Fazia constantemente  palestras em que seu poder de oratória e a voz potente e o talento raro de improvisar com brilhantismo, soavam emocionando a todos que o ouviam o que me deixava encantada e transmitia-me uma segurança que eu não saberia explicar.

               Jamais esquecerei quando era ainda uma criança e fui com toda a família assistir à sua posse num cargo de direção na Ordem dos Advogados e ternamente escuto, totalmente sensibilizada, essas palavras que refletem em meus ouvidos com estranha e clara precisão. Claro que não as decorei, mas o som, a música de sua voz e a tradução de suas frases perfeitas e elegantes sempre serão um eco embriagador.

               Sobre a humildade ele assim se manifestou:

               “Ao ingressar nesta tradicional instituição, na qual têm assento as mais ilustres e representativas figuras da cultura jurídica brasileira, imponho a mim o dever de consciência sobre a minha pessoa, empenhando esforços para fugir a qualquer exagero de valorização e a qualquer modéstia forçada”.
“Tenho na mais alta conta a virtude da humildade, procuro sempre pautar os meus atos pelas regras da modéstia. Mas o conceito que formulo de humildade não é de caráter exterior, obedecendo a movimentos de fora para dentro. Não. Humildade, para mim, reduz-se ao conhecimento exato das nossas possibilidades, do que somos dentro do mais puro realismo. A humildade que nega os méritos do indivíduo traduz-se em orgulho, pois visa, antes e acima de tudo, a provocar dos espectadores manifestações de discordância, exarcerbando-se qualidades inexistentes.”


               Poderia ficar horas falando do seu brilhante espírito, inteligência e retidão e contando passagens fascinantes de sua vida, mas desejo por hoje em nome de meu pai homenagear o DIA DO ADVOGADO, os seus bravos e lutadores componentes, a justiça do Brasil que ainda nos deixa guardar um pouco de esperanças merecidas e ao mesmo tempo evocar a figura do magnífico advogado Dr. Rocha Moreira que encheu minha vida e a de meus irmãos de muitos ensinamentos e amor e que soube com rara capacidade e dedicação elevar a imagem do verdadeiro advogado.

Vânia Moreira Diniz