POR QUE PASSAR A VIDA SEM SER NOTADO?

            “Vida não são as palavras / ditas / os gestos / repetidos /
            olhares / soslaio //... contém o gesto / o olhar /
            e a palavra se faz presente / nos livros incutindo /
            a coragem da ruptura / e do nosso encontro.” (Pedro Du Bois)


            Podemos ser notados de muitas formas na vida. Algumas boas, outras ruins. Ambas ficam marcadas para sempre, como nesta frase, dita num encontro: “Me orgulho de chegar até aqui, sem ter lido um único livro.”
            Foi um susto! Um susto em ouvi-la; um susto em saber que ainda existem pessoas que não lêem; um susto por as pessoas acharem natural tal afirmação.
            Passei mal! Mas, pensei... Será que aqui e agora é permitido pensar? Ou serei notada por estar pensando, e expulsa do encontro? Sim, porque aquelas pessoas só conseguem ser notadas pelo TER, e não pelo SER.
            Por que passar a vida sem ser notada, quando é tão prazeroso ler? “Ler é uma questão de sobrevivência.”
            Gostaria de poder passar às pessoas a transformação que um livro pode causar, através do hábito da leitura; que o conceito de riqueza vai além do dinheiro, e inclui literatura e cultura, como em Pedro Du Bois:

            “... nas bibliotecas / a vida espreita / em cada volume / que deixamos de ler.”

            A busca de um modo de vida mais focado na literatura prevê a necessidade de mudar, transformar e se descomplicar de forma consciente e livre. Através da leitura, as pessoas podem superar seus maus momentos e se deliciarem com os bons momentos: a tônica é descobrir o prazer da leitura. Difícil? Talvez, mas muito compensador. Sem livros é difícil viver porque se revela o vazio. E Benedito Cesar da Silva, coloca:

            “Não quero fazer de meus versos / Armas para a batalha. /
            Mas, sobretudo, hei de fazê-los / Como brinde à vida...”

            É preciso mudar e priorizar a qualidade de vida, ou seja, dar mais atenção aos escritores que revelam, a cada minuto, em suas obras, toda a riqueza de detalhes, para que possamos flutuar e viajar neste mundo sem tempo, como no poema de Benedito Cesar da Silva:

            “O rio tem mudado as pedras / Em seu percurso, / Levando-as adiante, /
             Visto que, na vida, é para frente que anda.”

            Trabalhemos com o tempo, arrumemos tempo para viver e contagiar a todos do valor do escritor e da sua obra: o livro.
            Imaginemos como seria viver sem os escritores e os seus livros?
            O que notaríamos?
            Monteiro Lobato alertou que “Quem não lê, mal ouve, mal fala, mal vê.”

 

 

DESCOBERTA FANTÁSTICA

Um livro é perfeito para se aproximar da arte da conquista: criança e leitura.

A linha é a representação do que se quer destacar. Uma linha leva a outra, como simbolismo gráfico. A linha nos representa através de algo inventado que sobreviveu ao autor.

Carlos Jorge, escritor belo-horizontino, que quando menino queria ser inventor, resolveu aprender a ler – “ foi uma descoberta fantástica ”-; o resultado lhe deu a possibilidade de escrever, escrever, escrever... Logo, voltou à idéia de ser inventor, de unir todas as palavras conhecidas e inventar histórias. Realizou o seu sonho, inventou A Linha Assanhada, que traduziu em livro infantil.

“Era uma linha assanhada / Era tudo e quase nada.//...
Era torta / Reta, curva / Semi-reta //...
Inventava e / Desinventava formas...”

Trabalhar em conjunto as linhas da arte de escrever com as linhas do desenho leva ao propósito principal, contribuir com as linhas do vazio, assim, oferecer a possibilidade da linha ter significados representativos de levar à reflexão: A Linha Assanhada .

As crianças são repletas de curiosidades e a leitura é uma maneira fantástica de explorar este mundo desconhecido e maravilhoso A partir das observações pela leitura, ela vai criando mentalmente os seus personagens e o cenário onde se passa a história; aprende a lidar com a realidade de maneira lúdica, e encara a vida e a morte repassando a sua visão, desenvolvendo sua própria fantasia.

Fantasia é coisa séria, deve ser cultivada na vida das crianças, porque as leva a vivenciar emoções e circunstâncias que na vida real não viveria. A arte de ler faz com que a criança transfira esse exercício para a realidade, ela junta fatos e acontecimentos.

Ler é conquistar a liberdade, isto é, belas páginas permitem ao pensamento os mais largos vôos em direção a verdadeira liberdade. Leitura e liberdade são caminhos entrelaçados, onde o pequeno leitor conquista o novo; busca inspirações e inovações para misturar coisas e palavras, fundir palavras e imagens, como Carlos Jorge na sua história:

“Era uma linha assanhada / Era tudo e quase nada.//...
Outro dia foi montanha / Se desmanchou virou céu /
Se cansou e virou mar / Se aborreceu e virou sol...”

A arte de ler envolve muitas descobertas e muitas transformações no desempenho intelectual da criança. Levando-a alcançar segredos e verdades, facilitando a expressão: é uma descoberta fantástica!!

“Era uma linha assanhada / Era tudo e quase nada. //...
Reta, curva, torta e quase certa / Certo dia, imitou o homem /
Não gostou / Virou bicho / Enrolou e se enroscou //...
Virou ponto e sossegou.”

Tânia Du Bois