Primeiro de abril!
A mentira é uma das coisas mais desagradáveis que existem. E embora a sabedoria popular diga que “a mentira tem pernas curtas” e que “mais depressa se pega um mentiroso do que um coxo”, ela continua a ser praticada, muitas vezes impunemente e alguns dos seus mais assíduos praticantes são até eleitos e reeleitos por nós, que somos crédulos e nos deixamos enganar.
Então, se a mentira é reprovável e a verdade um valor dos mais caros à nossa vida, tentamos eu e você, caro leitor, falar a verdade, ser sincero, não mentir. Parece fácil mas não é. Falar a verdade muitas vezes se torna uma coisa complicada. Não se pode sair por aí falando o que se pensa, até porque corremos o risco de magoar os outros. Como dizer a Fulano que ele tem mau hálito? O que dizer ao nosso amigo, que pede nossa opinião sobre um poema que ele escreveu? E quando aquele vendedor ou membro de seita religiosa toca a campainha, como não mentir? Como não dizer que não estou, que saí, que desapareci, qualquer coisa, só para me livrar do incomparável chato?
Se alguém me liga na sexta-feira à noite, e eu digo que quero ficar em casa, lendo ou vendo minha série favorita na TV ninguém aceita, nem acredita. Dizem logo: ”- Ah, Clotilde, essa não! Não acredito que você vai ficar em casa lendo numa sexta-feira.” Na segunda-feira as pessoas até aceitam uma desculpa dessas, mas na sexta! Sexta é dia de sair, de cair na gandaia, de dançar, tomar umas cervejas e se divertir. Agora, se em vez de dizer que vou ficar em casa lendo eu invento uma história mais ou menos mirabolante e improvável, todo mundo acredita, porque talvez essa história satisfaça mais às fantasias das pessoas do que motivos prosaicos e comuns.
Pois é, caro leitor. É difícil ser santo e não pecar, e isso se complica mais ainda porque as pessoas tem dificuldade de aceitar a verdade, já que a maioria de nós acredita não no que está na frente dos nossos olhos, ou no que nos indica a lógica, mas naquilo em que a gente quer acreditar.
Isso me faz lembrar da piada do homem que deu carona a uma amiga numa noite de chuva, depois subiu até o apartamento dela, tomaram uns uísques e terminaram, como se diz no popular, transando. Aí adormeceram e quando deu quatro horas da manhã ele pulou da cama assustado pensando o que diria à esposa quando chegasse em casa.
Então, teve uma idéia: colocou um pedaço de giz atrás da orelha, foi para casa e quando a esposa lhe perguntou onde estava ele disse a verdade: que tinha dado uma carona a uma amiga, que tinha ficado no apartamento dela, que haviam transado, adormecido e que somente agora ele tinha acordado. Aí a esposa respondeu:
- Deixe de ser mentiroso, seu cachorro! Você estava jogando bilhar com seus amigos até agora, esqueceu até o giz atrás da orelha…
Clotilde Tavares