Sujeito e identidade em Nietzsche
(Fragmentos)
A necessidade de pensar sobre o problema do sujeito e sua identidade encontra sua motivação na minha experiência imediata de ser-imigrante. A experiência da imigração conduziu-me à experiência do estranhamento.
(...)
O processo de imigração é vivido como um
processo de desterritorialização num sentido concreto, mas, sobretudo, no significado simbólico de desmoronamento e destruição de certezas, de verdades, de quadros que nos trazem uma determinada estabilidade. Ele traz também, entre outros, um sentimento de perda. A perda de objetos simbólicos, de referências, de significados cuja articulação compõe um mundo, uma história, uma cultura. Viver num outro quadro simbólico dominante é aceitar um conflito permanente entre aquilo que nos liga, nos junta e aquilo que nos diferencia e nos separa.
(...) Na experiência do imigrande escancar-se a diversidade dos valores, a multiplicidade de significados dada pelos grupos humanos de diferentes origens culturais. Os conflitos aparecem. A cultura funciona como uma segunda pele. Ela nos dá a forma que temos. Carregamos no corpo os seus sinais. Quem sabe sinais de sol de um país tropical? As cordas vocais parecem afinadas para a musicalidade de uma outra língua que se revela uma outra forma de estar no mundo. Quantos mundos "estranhos" são possíveis?
(...) Enquanto imigrante, você faz uso de duas línguas e se situa entre duas formas de expressão que dão conta de formas diferentes de sentir e pensar a realidade. Vive-se na interseção de dois mundos. Cada língua tem seu ritmo próprio, sua melodia.
Imigrar é fundir duas canções. E desafinar...
Regina Maria Lopes van Balen
Do livro: Sujeito e identidade em Nietzsche (p. 11, 45, 70), UAPÊ Espaço Cultural Barra/SEAF - Socied. de Estudos e Atividades Filosóficas, 1999, RJ