A arte de morrer
(para Marcia Sielski, in memorian)
Morrer é ser estrangeiro do silêncio. Não há uma finalidade na morte, pois a morte não se busca. A morte se encontra. Em algumas filosofias, a morte é a arte do encontro. Um encontro consigo. Um encontro com nossa totalidade. No em si e no para si. Embora paradoxal, somente sentiremos o viver quando morrer. A morte é a comunhão do vivido e o termo do viver. Não há na morte silêncio. Porque morrer não é calar. Morrer é ser infinito. E ser infinito é ser infinito em instantes.
Vivemos para morrer.
Todos os dias se morre. Morrem nossos dilemas. Morrem nossos receios. Morrem nossas alegrias e também morrem nossas tristezas. Morre um pouco de nós e em nós o pouco se morre. Morrem aqueles que amamos. Morrem os dias com o passar das horas. Morrem as horas com o destilar dos ponteiros. É com o hoje, com o agora que edificamos o ontem e nos encontraremos com o amanhã. É no hoje que somos o que não somos e não somos o que seremos. No agora, o ontem se torna infinito. O ontem morre.
A morte é aquilo que seremos: o infinito. Sendo infinito amanhã, seremos hoje sempre.
Morrer é antônimo do viver porque não é complexo. Enquanto na vida reside toda a complexidade do sentir, no morrer sentimos em simplicidade. Não há no depois da morte uma teoria. Uma explicação daquilo ou daquele que morre. Morrer, ainda que exista uma dor, uma angústia antes da ação, morrer é a própria plenitude do agir. E com isto não nos extraviamos.
Somente sentimos e somente somos. Somos infinito em instantes.
Diego Ramires