O GRITO DA TERRA

              Com a propriedade com que atua, fazendo sempre muito sucesso, o Papa Francisco lançou a Carta Encíclica Laudatio Si, que me foi antecipada numa conversa particular com o Cardeal D. Orani João Tempesta. A tradução nos remete aos trabalhos de São Francisco de Assis: Louvado Sejas.

              Diz o Papa que “a existência humana baseia-se em três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a Terra.” Esta representa o patrimônio único do qual dependemos. Por isso é fundamental o respeito pela mãe terra, o que nem sempre tem acontecido.

              São condenáveis os malefícios causados a esse patrimônio, mesmo reconhecendo o valor e a fragilidade da Natureza. Enganam-se os que acreditam no mito moderno do progresso material ilimitado. A aliança entre a economia e a tecnologia deve respeitar a dignidade humana e as questões ambientais. Temos a obrigação de cuidar da natureza e fazer com que o homem se proteja da destruição de si mesmo. “A desertificação do solo, por exemplo, é uma doença para cada um, e podemos lamentar a extinção de uma espécie como se fosse uma mutilação.”

              É uma preocupação de toda a humanidade, que se expressa na forma como lidamos com a Ecologia. A Encíclica terá larga penetração nas escolas do mundo inteiro, o que nos levou a produzir o programa Edupark , em cooperação com a Fundação Cesgranrio, para mostrar aos jovens, com os melhores recursos da tecnologia (3D, interatividade etc) de que maneira se pode contar com a colaboração de todos. É uma tarefa rigorosamente comum, unindo pais, professores e alunos, sem esquecer os líderes religiosos, independentemente da fé exercida.

              Para o Papa Francisco, nos debates sobre o meio ambiente deve-se ouvir o grito da Terra e, também, o grito dos pobres. A verdade é que a utilização dos recursos naturais disponíveis gera sérios problemas ambientais e sociais. Poluição, alterações climáticas, quantidade e qualidade da água, desaparecimento de espécies, perda da biodiversidade, declínio da qualidade de vida, de modo geral, são questões que não podem ser desconsideradas, ao contrário, precisam estar na pauta da Visão que podemos chamar de ecologia geral, a ser por todos respeitada.

              Assim, pretende-se a existência de uma educação para a aliança entre a humanidade e o ambiente, aprofundando-se os cuidados éticos nem sempre predominantes quando se avolumam os cuidados com o desenvolvimento da tecnologia, como se todo o resto fosse rigorosamente secundário. Concordamos com os que afirmam que a tecnologia não tem rosto, é impessoal, mas seria conveniente que ela se subordinasse a princípios nem sempre dominantes, na sociedade dos nossos dias. A ética do futuro, que é para ser considerada já em nossos dias, não pode colocar o homem à margem da natureza. O seu maior desafio é a conservação da vida, garantindo a ricos e pobres o conforto necessário. Como diz Sua Santidade, “não estamos autorizados a saquear os bens da Natureza”. Ao contrário, devemos lutar pela sua preservação.

Arnaldo Niskier
(setembro 2015)