2ª PARTE
Nunca
tinha querido aceitar o computador para escrever meus variados e intermináveis
trabalhos. Costumava dizer que minha inspiração sempre esteve
ligada com a caneta diretamente no papel e não abria mão
disso. Até com a máquina de escrever, vez por outra me revoltava.
Tinha uma enorme coleção de canetas tinteiro da qual me orgulhava.
Mas não queria o computador. Na minha casa ele existia, é
claro e meu marido diversas vezes quis me convencer de como minha vida
seria mais simples se o aceitasse. Eu tentava me aproximar e perdia
a paciência implorando por uma caneta. Não podia viver sem
escrever, porém não aceitava a modernidade nesse aspecto.
Todos estranhavam esse fato porque sempre gostei de inovações
e tinha mania de tecnologia e modernismos. Era realmente estranho.
E foi quando eu passava por toda aquela crise fatal desesperante
que meu marido comprou um computador para dar-me de presente. Olhei-o apática,
perguntando porque o adquirira.
— Esse é só seu, ele me respondeu. Poderá treinar
com calma.
— Não estou com paciência para entrar em nenhum curso.
— E não precisará. Virá um instrutor aqui. Para ajudá-la
a dominar o seu uso. Você poderá treinar na hora que quiser
e logo estará familiarizada. Sei o quanto aprecia a tecnologia.
E por que não aquela que mais lhe dará conforto? Economizará
um enorme tempo e não terá tanto trabalho com seus arquivos.
Com a internet suas pesquisas também ficarão mais fáceis,
extremamente menos complicadas.
Fico imaginando como ele foi paciente. Porque na verdade eu não
estava respondendo positivamente a nenhum estímulo. E sempre fora
uma pessoa para cima. Sem depressões e tristezas anormais.Com muito
bom humor, apreciando enormemente a vida e seus componentes.
O rapaz
veio instalar dois dias depois e eu apenas olhava como se realmente nada
tivesse haver comigo. A pessoa que me iniciaria no computador já
estava disponível em certos dias, mas antes disso uma noite resolvi
abrir e sentar-me em frente ao famoso presente. Enjoei-me logo, mas no
dia seguinte resolvi fazer a mesma coisa.
No fim
de uma semana durante a qual manejei-o sozinha conseguia concentrar-me
e progressivamente entusiasmei-me. Aprendi rapidamente, conectei-me com
a Internet por intermédio de um provedor e fiquei aí realmente
fascinada. Em dois meses não vivia sem computador e internet. Foi
uma paixão tão intensa e avassaladora que nesses meses aprendi
tudo sobre eles e embora tivesse uma pessoa me orientando ou mais precisamente,
respondendo às minhas dúvidas era justamente nas horas que
estava sozinha que mais conseguia avançar. Entendi que a lógica
era o principal e mais forte caminho a ser usado pelos usuários
desse sensacional invento..
Comecei a ler tudo que se referia ao assunto e procurar a ajuda no INICIAR
cada vez com mais assiduidade. Recuperei-me da depressão mais rápido
que o faria com um terapeuta. O sofrimento e dor dessas perdas jamais passarão
e tenho meus dias de lembranças intensas e diariamente rememoro
as figuras queridas que perdi. Mas o computador foi a maior maravilha que
aconteceu em minha vida em termos de trabalho. Acabei um romance que estava
em fase final, publiquei-o e havia editado um outro livro em co-autoria
isso tudo depois do computador.
Não sou fanática porque não é da
minha índole e ele não substitui outros aspectos da minha
vida. Não gosto de jogos e chats de bate-papo. Não faz o
meu gênero. Mas simplesmente adoro o meu computador e não
saberia atualmente viver sem ambos: Computador e internet. Consigo atualmente
realizar em dois dias o que antes fazia em quase um mês. Tudo se
me afigura fácil. Ninguém o manipula porque acho que a minha
organização não seria a mesma. Só eu o manejo,
mesmo porque estou sempre ocupada, trabalhando. E isso, com realização,
aprendizado e cura de um estado psicológico catastrófico
se deu em dois meses.
Muita
gente da área de psicologia há de dizer que os problemas
não acabam assim. E não acabaram. Sei o que digo porque fui
criada entre psicólogos e psiquiatras em minha família e
reafirmo que claro que ele não faz curas, mas no meu caso ele trouxe
a concentração e a esperança fazendo com que eu me
lembrasse que ainda estava viva. Simplesmente me fascinou de uma maneira
útil. Mas evidentemente que os sofrimentos continuam. Apenas consegui
enfrentá-los de novo. E isso tudo porque escrever é para
mim um vício. Só que não traz síndromes de
abstinências e seqüelas. Amo o computador e a internet e os
defendo em qualquer oportunidade.
Hoje tenho o meu próprio site através do qual exponho meus
trabalhos e tenho contacto com pessoas que se interessam por literatura
em geral.
Continuo a dizer o quanto é impressionante essa relação.
Até no intercâmbio positivo e útil entre as pessoas.
Na compreensão das necessidades do nosso próximo e da realização
do ser humano. No entendimento da complexidade da personalidade humana.
E no conhecimento cultural cada vez maior em um mundo mais amplo. Não
é uma viagem exploradora, mas na verdade uma viagem explorando o
potencial sedutor e benéfico. Além das atividades normais
e corriqueiras de um material de trabalho bem organizado.
Como sou
pesquisadora e me dedico também a isso o mundo que visualizo está
ao meu alcance ao toque dos meus dedos. É fascinação
e encantamento unido ao trabalho e à produção do próprio
ritmo de vida. Continuo afirmando que não resolveu a dor nem minorou
a saudade constante e o choque dos meses vividos somente fez com que eu
administrasse a minha vida apesar das perdas e sofrimentos. Com o tratamento
psicológico ou psiquiátrico eles também não
seriam eliminados apenas aprenderia a viver com as dores irremediáveis.
Não poderia mesmo assim erradicá-los. Não se
eliminam amarguras tão profundas e incomensuráveis principalmente
quando envolve perdas e efetivas saudades dolorosas. Convive-se com elas.
Aprende-se a chorar, enxugar as lágrimas e reiniciar sempre.
Aprende-se também a sofrer amadurecendo positivamente. Vamos dizer
que o computador tenha sido a mola mestra que me impulsionou a reagir.
E senti além disso, atração, fascinação
e utilidade. Eles me trouxeram de volta a uma vida útil contando
com as suas potencialidades. Trabalho e deslumbramento num mundo de simples
alcance.
Vânia Moreira Diniz