Dia desses inventei de querer tomar lições de fabricar
poesias. Desandei a caminhar por trilhas onde pisam poetas muito sabidos,
todos letrados, na plenitude dos conhecimentos de mundo. Cheguei ressabiada
e saí recolhida. Era um tal de vem por aqui, vire ali, siga de lá,
espia só que primor, sinta o escândalo da melodia, e coisa
e tal e tal e coisa. Cansei, tonteei. Larguei de mão que não
sou lá dessas métricas e tétricas, vida de mulher
já é tão regrada, até nos sangramentos deus
colocou datas, dias e tempos. Meus versos capengas faço mesmo é
de espanto, parindo no susto e nos afogamentos, nos soluços dos
gostos e desgostos, nos agastados de tristezas.Tudo por total carecimento
da palavra, quando o sentimento fica espremido na goela, dando ardidura
no peito e arranhados na alma. Como se fora um engasgo dobrado o verso
sai, parido como filho de índia, de cócoras, depois vem um
alívio graúdo, nem de resguardo preciso, no máximo
uma canja de galinha pra aproveitar as bondades do parto. Tudo mais é
caminho de sabidenças, careço deles não e menos preciso.
Quero a escrita pra gravar meus gritos, os versos pra gastar no esvaziamento
de agonias, as letras me bastam pra bordar o nome do homem que amo sem
sair da linha, de resto tudo é apoplexia, prima irmã das
fobias, filha de sangue da megalomania. Quero minhas rimas sem teosofias,
que nem sombra de árvore, onde me encosto e tomo visão de
vida, cheirando o perfume de gozo, nascido no cruzamento da terra com a
chuva caída. Sigo pés no chão, cabelos ao vento, coração
escancarado pra deixar meu corpo ficar possuído apenas de singelezas
das humildes poesias. Assim lá vou mastigando os versos, engolindo
rimas, achando um deslumbramento gemer na dor, uivar no prazer e gargalhar
na alegria. Com licença dos Poetas dou dispensas das alegorias,
entrego para o esquecimento os sinais recolhidos, e corro atrás
da poesia mais formosa, gravada em letras miúdas, que brota nos
descuidos e nasce feito cria santa, sem confundimentos, apenas pra afrouxar
peso de fardos e lidas e por finalmente peço benção
de santidade, pra não sofrer agouro nos meus versos : - ó
virgem das literaturas, por minhas rimas rogai, cuidai atenta de meus lamentos,
nunca me livre dos Ais!
Poesia pra mim é só isso.... Ai!
Nada mais!