Há uns anos atrás eu estava em um Congresso de Literatura no  Porto, organizado pelo simpático Arnaldo Saraiva. Dentre nós estava Luiz  Fernando Veríssimo e sua "senhoura" (como dizem os patrícios lusitanos,  também o meu amigo Domingos Carvalho da Silva e o querido Fábio Lucas,  estando em Portugal).

...um dos almoços no Congresso foi oferecido em uma casa muito antiga, que  orgulhosamente o Saraiva nos apresentava. A casa ficava a alguns  quarteirões do local das reuniões, e andamos, todo o grupo, até a nobre  casa onde nos esperava um almoço requintado das ilusões do passado. Nessa caminhada seguia em parelha com a "senhoura" e o marido da  "senhoura". Ela esfuziante contava todas as graças que o marido, sem o  menor vinco de gosto ou desgosto, pudesse deixar transparecer. No nosso passo a passo lerdo observava os dois. Na minha cabeça fervilhavam  as estórias do grande cronista que, ali, impassivo, talvez nem contasse os passos que iam sendo deixados pra trás. A "senhoura" esfuziante, e ele ia  indo, eu repassava suas histórias. De repente ele levanta os olhos que  caminhavam com passos e me responde: "falo pouco mas presto muita atenção".  Sorrimos, e ele numa curvatura dócil segura o braço da "senhoura" para  introduzi-la à porta onde o anfitrião já nos esperava.

Marlene Martins  

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