Há  cinco anos, minha comemoração pelo dia de hoje, é feita de choro,  de olho comprido e invejoso daqueles que nesse dia cumprimentam seus pais, enchendo-os de carinhos. A inveja é um sentimento muito feio, assim me ensinaram, mas nesse dia, permito-me virar criança e de novo experimentar aquela sensação de desconforto que tal sentimento produz: 'Eu tenho, você não tem'.
    E como toda criança, também fico cheia de vontade de fazer um desenho bem berrante, com erros de português e entregar ao meu pai, com um sorriso escancarado de poucos dentes na boca.
    Tá certo, ele morreu, eu já não sou mais criança, os desenhos que fiz já se perderam com o tempo e a inveja é mesmo, um sentimentozinho menor. E o que os outros pais tem a ver com isso? Tudo, ora!
    São pais de outras crianças, que  sentem, como eu um dia senti nos braços do meu pai, a proteção e amor que me fizeram virar gente grande. E mesmo depois de adulta, eu, que tive o privilégio de por muitos anos desfrutar da sabedoria do maravilhoso homem que foi papai, ainda me pego pensando que poderia ter aprendido muito mais, não fosse a mania que a maioria das pessoas tem de querer saber além da experiência e bom senso de seus pais.
    Hoje, talvez fosse um bom dia para ir ao cemitério, levar um papinho com ele, dizer-lhe como andam as coisas, pedir uns conselhos, contar das crianças que andam muito levadas. Mas ai me lembro de mamãe, que tem chilique todas as vezes que sugiro uma ida ao túmulo de meu pai e acabo ficando por aqui mesmo e comemorando à minha maneira, chorando e cumprimentando meus amigos e amigas pais, os pais dos meus amigos e amigas pois e o retrato do meu pai, que fica em cima do piano!
    A vocês, pais, meu carinho especial... hoje sou um pouco filha de todos... e por isso, beijo a cada um, como se estivesse beijando meu pai.
    A vocês, minhas amigas, que são pais, além de mães, beijos desta mulher que também cumpre o seu ofício de ser "pãe".

Mariza Lourenço



Mariza,

    Quando o meu pai morreu, Cláudia, minha irmã , tinha cinco anos. Na escola, numa discussão de crianças, um menino disse a ela que ele tinha pai e ela não. Sabe a resposta? " Tenho sim! Só que o meu pai está no céu e pode ficar tomando conta de mim o tempo todo, sem ter que ir trabalhar, como o seu!" É o nosso caso. Pra conversar com eles, a gente não precisa ir ao cemitério. O que nos faz sempre falar com o pai que morreu. A gente conversa em casa, dentro da gente, onde estará sempre o pai vivo e nosso e querido.

Márcia Maia
( outra pãe. como você...)


 

« Voltar