Modo de vida artístico

Quando se opta por um modo de vida artístico, a coisa continua assim — contando tostões. É impossível, na nossa terra, enriquecer escrevendo, pintando e traduzindo. A menos que se seja Paulo Coelho, claro. Rs. Ou que se case com alguém rico, como era o meu caso. Agora, depois que optei pela autenticidade, descobri que é engraçado e divertido contar os tostões para a padaria, o cigarro e o Mercedes com chofer (rs), porque o dinheiro todo se foi na tinta para a impressora, nas tintas a óleo e em livros, livros, livros. Sem falar nas intermináveis contas de luz e telefone, claro...
Antigamente eu vivia muito bem financeiramente — mas também terrivelmente frustrada, já que vivia como um peixe fora d'água. Agora... posso não ter mais fundos para a academia e o salão de beleza, mas nem me lembro disto. De qualquer maneira, quem precisa pintar unhas, quando as mãos vivem multicoloridas de qualquer jeito, e o esmalte sai com água raz? E quem precisa de jantares elegantes, falando besteira ao suave som de jazz, quando se pode sentar em uma mesa qualquer e discutir Nietzsche ao som de Linkin Park?
De repente descobri que ainda é possível viver cada dia como se fosse o único —  cada momento como se fosse inadiável. Sem viagem de iate e sem mordomia à beira da piscina — mas ah, como a chuva caindo lá fora parece mais bela!

Dalva Agne Lynch

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