Há duas semanas, passeando com minha cocker spaniol no jardim público atrás de minha residência em Battersea Park, notei que ela escavava a terra de maneira eufórica e fiquei observando-a em silêncio. De sua arqueológica escavação canina, percebi uma pequena e estranha pedra branca, parcialmente encravada na terra, e a coletei, colocando-a em meu bolso e retornando para casa.

Já em casa, mergulhei a pedra num pequeno copo com álcool e a deixei repousando por algumas horas. Após ter completado o processo de limpeza da pedra,  observei-a atentamente e algo nela intrigava-me de maneira perturbadora. Com o uso de uma lupa, comecei calmamente analisar cada milímetro da pedra e cheguei à amadora conclusão de que aquilo não era apenas uma pedra, mas sim  uma fragmentação fossilizada.

Antes de procurar uma opinião especializada na Universidade de Londres, mostrei-a para meus amigos Edinaldo Santos e Richard Price, e ambos concordaram que aquilo era algo mais que uma simples pedra. Ainda não a levei para análise, mas assim que o fizer, relatarei.

Há dois dias, fui visitar um amigo acidentado que mora em Illesworth, localidade próxima ao aeroporto de Heatrow, e ao caminhar em direção a sua residência, vi outra bela [e certamente] pedra no chão. Naquele momento pensei na riqueza e beleza do solo desta encantadora ilha e, subitamente, encontrei-me numa situação jamais antes imaginada por mim.

Uma intensa luz surgiu a minha frente e encontrei-me no mesmo lugar em que eu estava, mas com o solo coberto de gelo, nenhuma casa ou sinal de civilização e a beleza de uma manada de enormes mamutes brancos, com seus pelos que mais se pareciam com lã de carneiro alongadas e penteadas, seus gigantescos dentes de marfim e todo o porte que os mantinham soberanos naquela esfera.

Eu estava consciente do que estava ocorrendo, sabia que eu estava exatamente no mesmo lugar, mas em época diferente. Senti-me como há muito não me sentia, estava revigorado, feliz e em paz. Em nenhum momento senti-me ameaçado por aquelas enormes criaturas que caminhavam em grupo e bem próximos a mim.

Cronologicamente, o insight deve ter durado apenas uma fração de segundos; entretanto, acredito ter passado por uma experiência quântica que me proporcionou momentos que minha vida cronológica, até hoje, não havia me proporcionado.

Aquelas enormes criatura não mais existem nesta esfera e o homem, que se julga o maior, tudo faz para eliminar as demais criaturas que ainda sobrevivem. Dos mamutes, não tive medo. Dos homens, sim !

Marc Fortuna
01/03/2002

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