Numa festa de brilho e glamour, que reuniu a nata dos produtores e cultores da arte e da cultura popular potiguar, registrando o congraçamento de um arco de gerações que aglutinou desde os 80 anos de experiência e erudição do poeta e pintor Pedro Grilo até o mais novo vate da cidade, Carlos Mar, de apenas 8 anos, filho da poetisa Nãna Esmael, que lançava seu livro "Nascida para Sonhar" (Edição do Autor), a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte (SPVA/RN) festejou seus cinco anos de existência, na última quarta-feira, dia 12, Dia dos Namorados, no Salão Newton Navarro, da Capitania das Artes, envolta no carinho e consideração de numeroso contingente de amigos e admiradores.
Representantes dos mais diversos segmentos da sociedade norte-rio-grandense se fizeram presentes, para prestigiar o megaespetáculo elaborado pela entidade cultural, num recorte dos mais expressivos das diversas atividades e ramos profissionais. Confraternizaram com os membros da SPVA/RN escritores, artistas plásticos, músicos, atores e atrizes, escultores, dançarinos, bailarinos, sindicalistas, políticos, colunistas sociais, lideranças comunitárias de diversos bairros da cidade e do interior do Estado, e representantes da população, em geral.
Para o poeta, escritor, jornalista e animador cultural mossoroense, Cid Augusto, um dos membros fundadores do grupo de poetas e escritores POEMA, de Mossoró, "Os cinco anos da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins é na realidade uma grande vitória da poesia no Rio Grande do Norte". "Eu tenho dito, todas as vezes que sou convocado a falar sobre esse assunto, que a POEMA em Mossoró e a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, em Natal, são os grandes responsáveis pelo ressurgimento da poesia do Rio Grande do Norte. Antes desses dois movimentos, a poesia ficava muito resumida às famosas igrejinhas. Depois desses movimentos, resgatando sem preconceito a poesia de pessoas simples, sem pré-julgamentos, sem ver o que é bom ou o que é ruim, mas respeitando a poesia nas suas várias formas, os poetas começaram a aparecer, a mostrar sua cara, e hoje nós temos um Estado muito mais poético, mais feliz. E com um detalhe: a poesia está na moda."
A liderança sindical Fernando Lucena, presidente do Sindlimp (Sindicato da Limpeza Urbana), viu no congraçamento "uma vitória. E enorme". "Porque o que nós vemos, normalmente, é o desrespeito muito grande dos políticos, que se elegem muitas vezes com o voto do povo humilde. E uma sociedade como essa chega vitoriosa aos seus cinco anos de resistência. Digo de resistência, porque não tem dinheiro, não tem apoio, não há interesse dos políticos em colocar a realidade nua e crua do nosso povo, como vocês colocam. E o que vemos de mais grave é que a grande massa de trabalhadores, além de não ter acesso à cultura popular, tem uma Rede Globo, inimiga dos movimentos populares, inimiga da cultura do nosso povo, da nossa gente. E mesmo com o sistema de comunicação todo nas mãos da elite, a cultura popular sobrevive. Tem os poetas do povo, que retratam a vida do nosso povo, e isso é que é importante. É preciso ter condições, ter rádios comunitárias, acabar com o monopólio dos meios de comunicação nas mãos das elites, e dar a esse povo, à cultura, o caminho para ela sobreviver, porque é uma luta de resistência. Para a SPVA, é a definição que eu dou: é uma luta de resistência, como foi o Quilombo, como tudo que temos na história de nossa gente."
A colunista social da Tribuna do Norte, Liege Barbalho, que acaba de lançar o livro "De Hollywood ao Potengi", sobre jornalismo no Estado, vê nos cinco anos da SPVA/RN "uma vitória". "Como sabemos, é muito difícil se vender cultura. Vocês estão de parabéns, pois vemos muita gente prestigiando, numa festa maravilhosa, com muitas obras, poesias, pinturas, música. Realmente é uma noite de encanto de arte e cultura. Acabamos de lançar um livro, no ano passado, e estamos na luta para vender, para colocar no mercado, para que as pessoas tenham acesso. É um livro que, além de falar da memória do colunismo social, da imprensa no Estado, como surgiu, como foi, não deixa de ser didático. Pois tem informações, que eu considero privilegiadas, as quais algumas pessoas desconhecem. E seria interessante que as pessoas lessem mais, que houvesse um incentivo maior do próprio governo."
Para um dos dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação no RN (Sinte/RN), Hudson Guimarães, a festa da SPVA/RN "só pode ser vista e vivida com muita alegria". "Pois dentro de um país, de um Estado aonde não se valoriza a cultura, um grupo de poetas chega a completar cinco anos ininterruptos de trabalhos é algo magnífico. Num Estado caótico, do ponto de vista da credibilidade à cultura, do financiamento à cultura, tanto em nível do estado como em nível do país, um grupo que surge e consegue se soerguer, ser respeitado na sociedade, e consegue aglutinar e comemorar os seus cinco anos de vida, isto deve ser motivo de orgulho. Deve não, é. De muito orgulho para toda a sociedade potiguar, para toda a sociedade norte-rio-grandense. Em nome do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, nós queremos dar um abraço fraterno e os parabéns a esses bravos companheiros e companheiras, que conseguem manter viva, conseguem manter acesa a chama da cultura no RN."
O sindicalista e líder político da esquerda potiguar, baseado na região Salineira, Floriano Bezerra de Araújo, membro fundador da SPVA/RN, viu na festa de seus cinco anos "a vitória do trabalho, da luta, do idealismo, da vontade de tocar pra frente o projeto de fundação da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN, da qual eu faço parte". "Sabemos que o Estado burguês não funciona para servir ao povo, para ser solidário com o povo, para criar cultura, criar grandeza, encaminhar o povo para sua libertação. Pois é só através da cultura, da educação na sua base, desde a base inicial até a cúpula, que é o processo cultural no geral, que faz um povo se libertar. Mas para a burguesia não interessa isso. Isso no interior do Estado, em qualquer cidade do nosso Estado, cultura é coisa quase inexistente. Eles falam em cultura, até gastam alguma coisa em torno da cultura, mas a realidade é que a cultura não anda, não funciona, não vai, não cria condições para as novas gerações encontrarem os seus espaços necessários. Os talentos estão desperdiçados justamente pela hegemonia dominante. Dominam de tal maneira que muitos vão atrás do prefeito a pedir uma esmolinha para isso, e não estão cuidando do futuro deles, do seu espaço. Termina marcando o passo e não têm nenhuma saliência para o amanhã."
O vereador do PCdoB George Câmara, que acaba de aprovar uma lei introduzindo a circulação de poesia nos ônibus de Natal, quis destacar dois aspectos na festa a da SPVA/RN. "Primeiro, devemos parabenizar a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins pela resistência, pois comemorar cinco anos não é fácil nesse contexto. É um parabéns duplo. Primeiro, pela nobreza da atividade de resgatar a poesia, de fortalecer, não somente de transmitir, mas de produzir cada vez mais. Eu acho que esse é um dado, é um traço digno de registro, que a SPVA/RN tem marcado em nossa cidade, em nosso Estado. E em segundo lugar, porque numa maré tão braba quanto esta, de dificuldades, você resistir cinco anos, com o ímpeto de resistir muito mais do que mais cinco. Já significa também um outro lado, do ponto de vista da resistência. Resiste e avança. Eu acho que é esse o movimento que o povo brasileiro faz hoje. Resiste contra essa avalanche de destruição nacional, e ao mesmo tempo avança, na perspectiva de sua luta. Eu acho que a SPVA é um pouco esse traço."
Para Jonas de Lima, líder e animador cultural de Mãe Luíza, "um aspecto muito bom, um fato marcante, é a festa dos cinco anos da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, e com certeza só faltou a presença do grande poeta José Gonçalves. Na cena cultural, atualmente, na questão da poesia, a gente consegue captar como um lado bom é a ascensão dos poetas. A melhor coisa que houve nestes últimos anos foi a criação da Sociedade dos Poetas."
Paulo Augusto