A prova

            Uma euforia me dominou quando, recém graduada no curso de enfermagem, fui  convidada pelo professor Erick para dar aulas por um curto período.Peguei uma turma que, à primeira vista, me pareceu muito interessada, desempenhava suas tarefas de forma disciplinada .
            Quando decidi dar uma prova que consistia num trabalho de equipe, ocorreu o inusitado. Um grupo apresentou algo sobre doenças respiratórias. Até aí, nada demais.
            Quando peguei o trabalho vi que era meu, da época de estágio. Tinham pego para pesquisas, na secretaria da faculdade e simplesmente do trabalho só tiveram a idéia de passar "liquid paper" sobre as minhas rubricas em cada página, após xerocarem todas as folhas.
            Nada do que perguntava sabiam responder.
            Ora, eu havia colocado sínteses, mas sabia discorrer sobre tudo, pois estudara. Eles se ativeram apenas ao que estava escrito, nada sabiam além .
            No final disse que teriam zero.Foi uma confusão. Por minutos pensei que perderia minha estrutura emocional.
            Mas não. Simplesmente falei que o trabalho era meu, expliquei todo o ocorrido, e disse que me sentia envergonhada ao ver futuros profissionais se comportarem de forma tão inadequada, tão antiética.
            Recebi solicitações para que perdoasse os jovens, mas não perdoei. Se a nós é dada a oportunidade de contribuir na formação de profissionais, não é concebível que tratemos tais atitudes de forma pueril. Isso seria uma omissão.
            Nessa história, tive os pneus de meu carro furados, muitos bilhetes agressivos, cara feia de diversos alunos, e até uma perereca colocaram na minha gaveta, e quando abri, em plena aula,entrei em pânico . Foi uma espécie de vingança deles. Até então, não haviam presenciado minhas reações quanto aos outros atos "terroristas"
            Sei dizer que o grupo foi reprovado, pois os alunos foram para a prova final  precisando de nota dez e não conseguiram.
            Acredito, no entanto, que a descoberta da fraude e sua divulgação tenha tocado profundamente a consciência de cada um.
            Foi a primeira e única vez, na minha vida em que distribuí zeros com uma turma.

 Belvedere

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