Pisando em uvas neozelandezas

Semana passada, fomos jantar numa adega, pra ver um show latino. E os clientes também poderiam pisotear uvas na grande tina.
Distante uns dez minutos da cidade, é um grande, florido e sofisticado rancho que tem, abaixo do teto, um pergolado forrado de parreiras pendentes de cachos.
Nós brasileiros, sedentos de latinidad, reservamos mesa pra oito. Não contei pro meu escocês sobre o amassar-uvas. Quando o vi vestindo calça bege claro, calculei o estrago, pedi que a trocasse por uma velha calça desbotada. Nem expliquei nada, porque surpresa é surpresa. Ele coçou a cabeça, mas acabou topando.
A proprietária é croata e o marido, holandês. Fabricam o “Villagrad” um dos melhores vinhos daqui da Nova Zelândia, mas com produção apenas pra dois restaurantes. São festeiros, sabem como agradar, ela recebendo os clientes na porta, os quais conhece pelo nome.
Ele é o Sílvio Santos dos shows.
Comida gostosa e o quintal um grande vinhedo.
Logo que ocupamos a longa tosca mesa, a proprietária nos apresentou um casal. Surpresa, mais uma brasileira em Hamilton, Nova Zelândia!
Carioca, Gina conheceu via internet, Mark um neozelandês viúvo. Moram na casa vizinha ao restaurante e casaram-se mês passado. E a festa será ali sob as uvas.
Ele, já de camisa verde-amarela, bandeirinha brasileira no lado esquerdo do peito. Faíscas nos olhos de ambos, como só os apaixonados. Juntaram-se a nós, aumentando a torcida.
A música ao vivo mostrou-nos que pelo menos um dos músicos era da América do Sul. Às vezes enveredava por aquela batida eletrônica que nivela qualquer estilo.
Após o jantar veio o show; moças de biquíni, plumas e paetês. Algumas asiáticas, olhos puxados, lembrando a índia brasileira. Outras, mais claras que alabastro, nada de bunda, peito abundando. A mais bronzeada deve ter nascido nos fiordes da Finlândia. Dentro do possível, até que dançaram bem.
O ritmo pulava da lambada pra rumba, do axé pra salsa, do samba pro bolerão.
Em versão frenética, a Bossa Nova arrancava euforia e aplauso da platéia. Aí veio o som ao vivo dos berimbaus e rapazes usando calças de lamê colorido, deram uma excelente exibição de capoeira, estiveram fazendo cursos na Bahia, e aprenderam bem.
Teve campeonato de lambada pros casais neozelandeses.
Apesar da hilariedade da cena, rir daquilo, seria xenofobia da nossa parte.
Depois, caímos no samba. E dá-lhe carnaval. As pessoas cercaram-nos, acompanhando com palmas e tentando aprender a cadência. Ficaram admirados, porque sabíamos cantar todas aquelas músicas de carnaval, ora, ora...
Lavei a alma como há muito “...não ousava mais...
E pra descansar, tiramos os sapatos pra cair na farra da uva.

Cláudia Pacce

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