Já que estava na Nova Zelândia, aceitei o convite de amigos
e vim parar na Austrália. Eles são escoceses mas a certa
altura da vida, mudaram-se pra cá e moram numa colina à beira
do Pacífico. Ela é psicóloga especializada em atender
crianças, principalmente aborígenes, ou maoris. Ele é
dentista aposentado, e como voluntário cuida dos dentes de prisioneiros.
Moraram em Melbourne e agora vivem aqui no estado de Queensland, na
cidade de Townsville que abriga 8.000 mil habitantes. Calor de 38 graus
que só não torra porque a brisa sopra sempre.
Ontem fomos até a Ilha Magnética, aonde em 1770 Capitão
inglês James Cook ancorou pela primeira vez e acabou sendo o descobridor
oficial do país.
Como houve um desarranjo no equipamento que lê rota, sua embarcação
veio dar nesses costados. Ele botou a culpa na atração que
o magnetismo da tal terra exercia e batizou-a de Ilha Magnética,
na verdade a bússola dele é que endoidou.
Belos rochedos ao longo da ilha formam baías orladas de areia
grossa, parecida com a dos nossos rios. Coqueiros lá e cá,
uns alguns cocos, tudo muito civilizado, banheiros públicos limpos,
búguis em perfeito estado, alugados a R$ 47,00 dia. A balsa-catamarã
que faz a travessia de 8 km entre a cidade de Townsville e o subúrbio
Ilha Magnética, leva 20 minutos, é moderna e funcional, R$8,00
ida/volta.
Muitos vivem na ilha e trabalham na cidade.
Famílias fazem organizados picnics sob frondosas árvores,
existem mesas e bancos apropriados, impecáveis, nenhuma criança
grita, nenhum cachorro late. Lixeiras/cinzeiros por toda parte, grama bem
aparada. Os pequenos hotéis têm bom preço, o dólar
australiano vale o dobro do Real. Por dois dias, um casal paga entre R$100,00
e R$180,00, com direito a saleta, quarto, cozinha completa, banheiro, tv,
ar condicionado, lazer comum com piscina, parquinho e essas coisas.
A cor do mar é deslumbrante, bom, também nunca vi cor
de mar que não o fosse. A intensa luminosidade do céu delineia
nuvens e o recorte das montanhas azuladas traça um belo dum horizonte.
Pareço estar fazendo propaganda do lugar, mas desde que soube
estar com glaucoma e que corro riscos, quero apreciar tudo da melhor maneira
que puder, até me decidir a uma nova cirurgia pra ampliar o campo
da visão.
Alguém conta que na ilha próxima, a das Palmas, um aborígene
ao ver sua criança escapar das mãos duma serviçal
e cair no mar, abocanhou e arrancou um naco da nuca da babá nativa.
É, mas ninguém fala sobre o comportamento dos ingleses com
os nativos durante a colonização.
A água do mar é quentinha como a do nosso nordeste. Jovens
desfilam comportados, carregando suas mochilas, piercings e tatuagens.
Mesmo que você arranque a roupa, parece que ninguém se importa,
parece, mas os olhinhos pululam.
Nenhum mendigo, ninguém quer te passar a perna, e tudo é
quase lindo e digo quase porque ninguém canta nem dança,
ninguém sabe o que é caipirinha, ninguém (menos eu)
namora na praia, ninguém se beija ou abraça, ninguém
chora em público nem ri gostoso, ninguém toma água
de coco ou trepa no coqueiro, ninguém sabe o que é saudade...
Cláudia Pacce