Recordações
acerca de Lenine (*)
Camaradas,
Há homens de que
é muito difícil falar com as palavras usuais. A história
da Rússia, infelizmente, conhece poucos. Na Europa ocidental há-os.
Por exemplo, Cristóvão Colombo... Podemos citar na Europa
ocidental numerosas dessas personalidades que serviram de algum modo de
alavancas de viragem da história no sentido desejado. Entre nós,
na Rússia, há apenas um, ou pouco mais, e esse é Pedro,
o Grande.
Pois bem, Vladimir Ilitch
é um homem desses. Não apenas para a Rússia, mas para
o mundo inteiro, para todo o nosso planeta. Penso que por mais belas palavras
que pronunciemos, não conseguiremos traçar e revelar
o alcance profundo da sua obra, da sua energia, da sua perspicácia,
não só para nós mas para toda a humanidade.
Penso que não encontrarei,
embora eu seja escritor, as palavras susceptíveis de pintar com
bastante brilho esta grande figura, poderosa, cheia de vigor, esta figura
de gigante.
Lenine é grande no
plano político. Mas ao mesmo tempo é um homem simples, terrestre,
de carne e osso.
Queria dizer algumas palavras
sobre um outro Lenine que conheço pessoalmente, queria falar do
homem de todos os dias, como vós e eu.
Em 1907, cheguei àquela
húmida cidade de Londres, ao Congresso do Partido. Eu estava adoentado.
Temendo que o meu estado se agravasse, Vladimir Ilitch Lenine veio ter
comigo, ao hotel, e pôs-se a apalpar o colchão para ver se
ele não estaria húmido. É assim o Lenine que eu conheço,
que é um homem inteiramente inesperado para muitas pessoas.
...Lembro-me da maneira
como Lenine jogava as cartas, um jogo chamado "a tia" de que ele gostava
muito: gracejava como só ele sabia. Nesses momentos nada havia nele
que pudesse admirar o mundo. Absolutamente nada: um Russo, tão simples,
tão amável, tão afectuoso, um simples homem russo
como qualquer um de nós. E de súbito descobrimos esta figura
de gigante: quando a contemplo, asseguro-vos que embora eu não seja
o maior dos medrosos, tremo. Tremo por ver esse grande homem que, como
uma alavanca, altera a história do nosso planeta à sua vontade.
E quando se vê este
homem simples, amável, afectuoso, rindo com um sorriso magnífico,
transformar-se numa figura titânica, cuja importância é
difícil de abarcar, há nisso qualquer coisa de maravilhoso.
É isto que queria
dizer sobre Ilitch, sobre esse homem diante do qual me inclino em pensamento
e a quem desejo, por longos anos, uma boa saúde e essa energia inesgotável
que lhe é própria; desejo-lhe tudo o que há de melhor
no mundo.
Vi grandes homens, conheci
Tolstoi e alguns outros. Mas esta figura de gigante eclipsa-os a todos.
Para vossa felicidade, para
a felicidade do país inteiro, este homem existe. É preciso
apreciá-lo muito, é preciso estimá-lo muito, é
preciso ajudá-lo muito no seu labor imenso, universal, planetário.
Sim, na pessoa de Lenine, a história da Rússia quase fez
um milagre.
Compreendam-me bem, este
homem não tem necessidade de nada para ele próprio. Mas como
figura histórica tem necessidade do vosso trabalho corajoso, tenaz,
ardente, tem necessidade da vossa estima afectuosa.
A mais bela homenagem que
se possa prestar ao seu enorme labor, o mais profundo reconhecimento para
com tudo o que ele fez não apenas para a Rússia, mas para
a humanidade, é um trabalho honesto, um trabalho encarniçado,
o amor do trabalho, essa força de alma que vos desejo a todos com
todo o meu coração... São estas, camaradas, as poucas
palavras que vos queria dizer.
Máximo Gorki
Do livro "Lenine", de Máximo Gorki, trad. de Egito
Gonçalves, Editorial Inova Limitada, 1970 Porto/Portugal
Enviado por Leninha
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(*) Discurso pronunciado por ocasião dos cinquenta
anos de Lenine
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