Alumiando nosso espelho

Cheguei em Curitiba, em 1988, sem conhecer ninguém, exceto uma família da Fazendinha, que muito me ajudou,   recepcionando-nos, a mim e a minha família.
Das artes, ninguém. Assim como ninguém me conhecia. Tive a felicidade, entretanto, de logo começar a trabalhar pela instalação do Disque Poesia, o que me valeu muitos contatos e muitas amizades. E me incentivou, também, a tentar outros projetos.
Foi assim com o "Tem Poesia no Meio do Caminho", que realizei em 1993/1994.
Iniciado o "Tem Poesia...", recebi, entre outras, correspondência de uma mulher, dizendo-se poeta, entusiasmada com o projeto, pedindo para "comprar" etiquetas do mesmo, para que ela, também, pudesse disponibilizar livros para a comunidade.
Meu ego estava em festa! O Projeto foi muito bem recebido pela imprensa, amigos próximos me ajudaram muito e consegui, até, que livreiros de Curitiba doassem livros para o "Tem Poesia...". Bem... até comprar etiquetas do projeto tinha quem quisesse!
Enviei as etiquetas gratuitamente (Acho que as enviei. Se não, por favor me corrija.), até porque o propósito do projeto não era "vender", mas possibilitar que as pessoas pudessem encontrar livros em locais públicos, ler e depois devolvê-los a locais públicos onde outros pudessem fazer o mesmo, criando, talvez, uma corrente literária a que chamei de "primeira biblioteca pública do Brasil".
Mas, a partir desse primeiro contato, começamos a trocar correspondências, algumas idéias e poesias, eu e aquela mulher, que me convidou algumas vezes para visitá-la, no Centro de Letras do Paraná.
Até que um dia, fui assistir uma reunião no Centro de Letras, mais para conhecê-la que mesmo interessado em participar da reunião. Na reunião, um amigo comum mostrou-me a figura de uma mulher elegante, cabelos azulados que, a primeira vista, pareceu-me uma daquelas donas-de-casa "bem" casadas, que se dedicam a escrever seus poemas, mais para espantar o tédio, que por qualquer outra razão. Esperei terminar a reunião e apresentei-me. O sorriso, o carinho com que fui recebido logo desfez aquela primeira impressão. Aquela mulher mostrou, de imediato, uma capacidade de deixar à vontade, de receber desconhecido como quem recebe um velho amigo. A partir daquele dia, passei a freqüentar algumas reuniões do Centro de Letras, embora sem a assiduidade e regularidade dos que fazem parte da Instituição e meus contatos com aquela mulher que tanto me incentivava, começaram a se aprofundar, não só pelos rostos que tínhamos a partir de então, mas principalmente por uma identidade de propósitos culturais. Sinto-me privilegiado por essa amizade, surgida da poesia.
De lá para cá, estivemos sempre em contato, sempre "trocando figurinhas". Mais pelo correio, que por outro meio qualquer, principalmente por minhas ausências do Centro de Letras e as inconstâncias de minha vida. Mas, sempre que podemos, estamos trocando correspondências falando de nossos projetos.
Participamos de alguns Congressos de Poesia, mais algumas reuniões no Centro de Letras; nos apoiamos mutuamente em projetos, ora meus, ora dela; em fim, felizmente, não perdemos o contato.
Pessoa otimista, voluntariosa, sempre disposta a dar carinho e estímulo, essa mulher sempre me pareceu pessoa bem resolvida profissional e economicamente. Mais do que isso, sempre me passou a imagem de pessoa que, embora tenha conquistado sua condição por méritos próprios, não teria passado por grandes vicissitudes, durante sua vida. Não sei de onde tirei essa impressão, senão de seu sorriso e serenidade constantes, além do afeto que dedica a todos que tenham o privilégio de conhecê-la.
Eis que hoje, quase dez anos depois de conhecê-la, essa mulher desnuda-se, mostrando publicamente o quanto lutou para atingir o estágio de companheirismo, sabedoria e despojamento que atingiu.
Lendo "Luzes no Espelho", o que fiz de uma só tomada, até porque acho difícil alguém largá-lo antes do final, passamos a conhecer uma mulher bem maior do que ela nos apresenta. Passamos a partilhar da exata dimensão dessa mulher que, de infante entregadora de pães e cobradora de lotações, chegou a essa poeta que, já respeitada em sua terra e querida por onde passa, como a grande poeta que é, mostra a incrível mulher que existe por trás da poeta. Mostra-nos o ser humano puro, igual a alguns de nós que, sabendo superar seus obstáculos dá-nos, simultaneamente, o exemplo e a esperança de que vale a pena lutarmos pelo que acreditamos, com ternura e amor.
Estou emocionado com o que li. Hoje, o que gostaria mesmo é que o "Tem Poesia no Meio do Caminho" estivesse sendo realizado só com "Luzes no Espelho", para que em cada local público desse País, cada cidadão pudesse partilhar dessa iluminação. Fique tranqüila, amiga, esse teu último "filho" ainda vai circular muito por aí afora, levando luzes para todos os espelhos que encontrar em sua caminhada, que está apenas começando.
E para você, Adélia Maria Woellner, não tenho muito o que dizer. Somente agradecer por tudo que tuas Luzes iluminaram em minha vida.
Obrigado.

  Carlos Barros

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