Borrifei as últimas gotas daquele frasco de perfume no meu pescoço... Veio-me à mente o rosto de Daniela, seu sorriso e a festa no dia do meu aniversário, quando ela me presenteou com o recém-lançado perfume francês. Senti a fragrância no ar...
Tinha que me desvencilhar do frasco e, com ele, apagar a lembrança persistente, quase doentia de Daniela, a amiga que optara afastar-se do mundo e, reclusa, viver entre as quatro paredes de seu quarto, até que a vida a levasse aos braços da morte.
Nunca digeri o fato. Como entender suas negativas diante dos apelos de amigos para que prosseguisse com sua vida? Deixou de lado carros, mansões, filhos... Por quê?
Tenho que me libertar dessa opressão. Tirar Daniela da prisão de minha mente, aceitar sua opção.
Pego meu carro, atravesso a Ponte Rio-Niterói, e no vão central lanço o frasco ao mar...
Que eu me liberte dessa angústia perpetuada através de um frasco de perfume.
Que Daniela, enfim, encontre o seu caminho.
Com flores, perfumes... Sem dores!
Adeus, amiga.