O Poder da Mansidão
No dia 15 de janeiro de 2005, em Vitória, no Espírito Santo, dei o meu último adeus ao tio Munir Souki . Depois de 79 anos na terra, partiu sorrindo para o outro lado da vida. Percorreu, com mansidão, uma longa trajetória, em distância e profundidade. Nasceu no Líbano em 1925, e aos 2 anos de idade veio, com seus pais, Rachid e Fádua, para o Brasil. Aos 23, mudou-se com o pai e irmão mais velho, Kamel, para a Venezuela, onde permaneceu até 1962, quando retornou ao Brasil.
Ao contrário da extraordinária energia e espírito empreendedor de Kamel, Munir cultivava mais a serenidade e a espiritualidade. Era o equilíbrio da família. Nos momentos de maior tensão, quando os negócios estavam prestes a ruir, sua frase favorita era: “Calma, pra tudo tem solução”. E, ele tinha razão, de uma forma ou de outra, a solução sempre apareceu. Suas palavras eram profecias que se auto-realizavam. Pensava o bem, falava o bem e somente fazia o bem.
Quando eu tinha 12 anos ele me disse que havia descoberto uma nova perspectiva de vida, a filosofia Rosa Cruz. A essa forma de pensamento dedicou 40 anos de sua existência. Indicou-me uma séria de livros importantes sobre o poder do pensamento positivo e do otimismo, os quais devorei avidamente. Suas sugestões tiveram influência decisiva em meu destino. Daí em diante, sempre que nos encontrávamos, não falávamos, nem dos negócios, nem da política, nem da economia; falávamos apenas das delícias do mundo espiritual, e dos milagres que nos acontecem no dia-a-dia. Passei a acreditar, do fundo da minha alma, que não existem coincidências, mas providências. A coincidência, ele me ensinou, é a forma com que Deus fala conosco.
Ao contrário dos irmãos e do cunhado, meu pai Acácio, a Munir o rumo dos negócios da família Souki parecia importar muito pouco. O que, realmente, lhe interessava era a harmonia da família, o bem estar emocional e espiritual de todos. Tinha zelo extremado ao falar para que suas palavras não ferissem os outros. Jamais levantou a voz com um semelhante. Era a calma em forma de gente. Munir era calmo, não porque a vida lhe fosse fácil, desde a infância as montanhas a serem removidas foram enormes. Mas ele sempre encontrava tempo para reconfortar seus semelhantes, estressados até o último fio de cabelo. Diante dele, todos se sentiam impotentes, pois era impossível fazê-lo perder a paciência, mais impossível ainda parecia ser magoá-lo. Teve inimigos, sim. Amigos invejosos, sim. Desilusões, inúmeras. A tudo respondeu com o perdão. Somente nas histórias de santos encontrei relatos que se assemelhassem à predisposição ao perdão que Munir manifestou durante sua passagem pela terra.
Nem uma ruga sequer, sorriso no rosto iluminado, assim estava Munir em seu derradeiro repouso. Como viveu, morreu—mansamente. “Aquele que custa a irritar-se é melhor que o poderoso. Aquele que governa seu espírito, é melhor do que aquele que conquista uma cidade” (Provérbios 16, 32). “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mateus 5, 5).
Ômar Souki