Sem amor próprio?

Estávamos eu e a mulher, no aeroporto, esperando José Saramago. Quando me apresentaram ao editor Luiz Schwarcz, também no aguardo, disse-lhe com toda espontaneidade: “Ah. Foi você aquele que não quis publicar meu livro?”
Estava com um conhecido que, brandamente, me recriminou:
— “Não mostraste amor próprio. Acho que te humilhaste demais, dizendo isso”.
Pode até ser. A verdade é que desejava ser editado pela Companhia das Letras. Não neguei na hora não nego agora. A verdade também é que meu livro saíra pela Maltese, obtivera elogios que jamais podia esperar, vindos de Claude Levi-Strauss, Alice Raillard, Ascendino Leite, um bocado de gente do ofício. Iria sair em edição portuguesa. E o degas estava ali, ao lado do famoso editor, para receber o prêmio Nobel de Literatura que me trataria, - ele pôde ver - com carinhos de amigo.
Por que deixar de dizer o que estava sentindo? Botar uma banca que não tinha sentido? Deus me tem poupado de reais humilhações e Lhe sou grato por isso.

Lustosa da Costa

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