Meu pai, a AGL e o Saci

Vivo queixando que a comunidade goiana não reconhece em José J. Veiga o talento e a competência que o resto do Brasil e mais de 30 países já vislumbraram. Veiga, o maior nome da “ literatura feita em Goiás” (verdade que ele escrevia no Rio de Janeiro, mas sua essência era eminentemente goiana) não me parece bem aceito nem mesmo entre seus familiares de média distância sangüínea - quero dizer parentes de terceiro grau, por exemplo.

Por isso, a homenagem da Academia Goiana de Letras a Gilberto Mendonça Teles nos dias 27 a 29 de julho teve, para o orgulho goiano, um significado especial. Méritos, pois, ao presidente Geraldo Coelho Vaz. E a outras entidades que se aliaram à AGL, como a Academia Feminina de Letras e Artes (que belíssima sede !), o Instituto Histórico e outras entidades de - dirão os incautos - somenos importância -, como academias municipais (fiz questão de registrar o apoio das de Pirenópolis, Piracanjuba e Caldas Novas) e o Memorial José J. Veiga.

Fui um dos falantes, junto com Maria Luiza Sisterolli e José Fernandes; no dia seguinte, Darci França Denófrio e Zaíra Turchi dividiram a noite com Eurico Barbosa; e a apoteose ficou por conta do presidente da Academia Brasileira de Letras, Ivan Junqueira, e do imortal da ABL Antônio Carlos Sechin (companheiro de viagem a Israel, em 1997; belíssima análise do poema Soma, de Gilberto).

Eu não entendo muito de críticos, mas eles também não entendem muito de nós; então, se eles dizem tanto de nós, posso dizer alguma coisa sobre eles. Dos poucos que conheço, sei que se dividem em três categorias, ao menos: os que com simplicidade e sabedoria falam pouco e dizem muito; os que também têm sabedoria para entender, mas receiam não ser compreendidos e, por isso, dizem muito; e os que dizem muito mas não têm aonde chegar (destes, posso dizer apenas que falam muito, sim; mas nada publicam).

As mulheres da AFLAG receberam Gilberto para uma seção matinal que só acabou minutos antes do meio-dia , tão empolgante foi a festa, com falas de Fátima Lima e Heloísa Helena de Campos Borges. A primeira delongou-se um pouco mais e registrou pérolas na análise do erótico : “O poeta sabe usar a língua e fá-lo com maestria” (notei que às alusões da professora a essas passagens mais picantes, um riso ligeiramente histérico se erguia de entre as ouvintes). Quanto à Heloísa, falarei em outra data.

A longa festa para Gilberto, mais o aniversário de meu pai - Siô Israel completou 83 anos dia 30 - impediram-me de estar em Sorocaba, onde se deu a Primeira Semana do Escritor, numa iniciativa do incansável escritor e editor Douglas Lara. O aniversário de meu pai, festejei-o de modo muito íntimo, na proximidade com o meu bandolinista e violonista preferido, falando de coisas nossas, recordando fatos e alegrando-nos com tais lembranças. Visitar a memória é um exercício de felicidade.

Gostei de saber que Cecília Costa - como eu, jornalista e estudante do Colégio Pedro II - escreve livro sobre o Diário Carioca e, por isso, pesquisa as vidas de Luiz Paulistano (filho de Moisés Santana, meu patrono na Academia Goiana de Letras); e que Ivan Junqueira, que ainda não conhecia Goiás, já curtia nossa terra por gente de Goiás que lhe levou o sotaque, e Gilberto é o principal entre estes. E gostei de rever Sechin, que levou na bagagem pequi e poesia e que se deixou fotografar comigo e Zé Mendonça - fomos o trio brasileiro em Jerusalém.

E o sábado em Caldas Novas foi pouco para o circuito de automóvel : a cidade cresceu demais, quase não vejo nossa gente por lá... Nossa gente é o programa de Salvador Farina em que fui foco, na manhã de 31/07, momento de outra vez visitar a memória.

Em síntese, foram cinco dias emocionantes, desde quarta-feira, 27. Brinquei com Gilberto e o seu livro Saciologia Goiana; ouvi esses ases da análise literária a falar de poesia e de Gilberto; beijei meu pai, revi irmãos e sobrinhos ...

Ah, essa lágrima...

Luiz de Aquino (GO)

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