O furgão era de uma emissora de rádio famosa. O rapaz que fazia a pesquisa parou-me na esquina de minha casa. Recém aposentada, com todo o tempo do mundo, comunicadora de nascença, atendi prontamente, disposta a colaborar.
Você pode responder a algumas perguntas? ele achava que eu alegaria falta de tempo, como os outros, que caminhavam cheios de pressa. Assim, o rosto jovem e bonito se iluminou com minha afirmativa. Caneta na mão, animado:
Primeira coisa: qual a sua idade?
Eu respondi, sem hesitar, pois não tenho o hábito de esconder a idade. Dependendo do contexto, posso fugir à oportunidade de dizê-la... Mas ali não seria o caso.
A alegria desapareceu do rosto dele. Desanimado, informou-me:
Que pena! Está fora da faixa da pesquisa.
Eu, decepcionada e curiosa:
Ah! sim? E qual é a faixa?
Ao ouvir a resposta, de uma idade limite de dez anos menos que a minha, caminhei para casa com uma sensação dúbia e insolúvel: tristeza por estar fora da faixa em que as opiniões interessam, ou alegria porque o rapaz julgara que eu fizesse parte daquela faixa?!... Ainda não me decidi.
Sônia Adarias Soares Bruno