Mágoas, rancores, fracassos e arrependimentos ao longo da minha Via Crucis
Não só Jesus Cristo passou por uma Via Sacra e, como Caetano Veloso, botei todos os meus fracassos nas paradas de sucesso.
O meu primeiro fracasso escolar foi minha incapacidade de entender as abstratas formulações da Matemática, o que me custou mais dois anos sentado em duros bancos escolares, repetitivas ladainhas de tabuadas e muitas ameaças dos meus pais e uma ou duas vergonhosas "bombas” devastadoras.
Os meus fracassos escolares mais recentes foram a excludente interdição da minha cultivada perspectiva de docência numa universidade pública conceituada e a “má fama” de brigão e de provocador que me impuseram alunos e professores das escolas de ensino fundamental e medíocre nas quais atuei entre 1973 e 1995.
Arrependo-me muito por ter enviado uma áspera carta a uma maternal amiga de Belém do Pará que, em menos de 30 dias morreria com trombose desprendida das artérias de uma das suas pernas. Arrependo-me ainda, confiteor, de nunca lhe ter enviado minha única cópia da fita de vídeo filmada durante a defesa da minha dissertação de Mestrado em 27 de Março de 1990. Também me incomoda e me constrange lembrar a distância mantida mutuamente entre eu e o meu pai (falecido há 20 anos).
Não oculto nem me envergonho de reconhecer minhas mágoas em relação àqueles que, por inveja, competição ou partidarismos oportunistas e autoritários, me prejudicaram profissionalmente. A minha vingança está em poder rasgar as máscaras “pedagógicas” e escancarar, com alto grau de veracidade, a caótica mediocridade e a crise de confiabilidade no “trabalho” escolar brasileiro contemporâneo.
Tornei pública (via Correios) a minha decepção eterna diante das posturas afetivas e existenciais preconceituosas (e a mim arrasadoras) da minha Electra nos últimos vinte anos.
Não escapei também da doentia mágoa dos santos de casa que não fizeram milagres nem dos meus humanos fracassos eróticos e amorosos. Este meu texto teria alguma coisa a ver com As Confissões de Santo Agostinho de Hipona? Creio que não. Ele escapou da condição de “maldito” e tornou-se Doutor da Igreja!... Outro dia até pensei em me recolher à paz da clausura de algum convento católico mas lá eu não conseguiria viver sem os meus livros e longe das minhas cadelas. O Senhor talvez se sentisse livre de mim, o que se me afiguraria como uma ingratidão.
Outro arrependimento que me chicoteia é o de não ter devorado tudo o que coubesse nas tigelas de louça nas quais a vovó Argelina depositava as geléias de mocotó e as inesquecíveis e saborosas ambrosias que fazia! Ah, meu Santo Ambrósio!...
José Luiz Dutra de Toledo