A lição do Pragueiro

    Faço parte de um grupo empresarial que tem atuação no Brasil inteiro. Esse grupo, por razões afetivas, tem desenvolvido um extraordinário trabalho na região norte do Estado do Rio de Janeiro com diversas atividades ligadas à engenharia e ao agro-negócio (lavouras de cana, fruticultura, usina de produção de açúcar e álcool, pecuária de corte com tecnologia de inseminação artificial e transferência embrionária, duas fábricas de produção de sucos para o consulmo interno e exportação e várias outras atividades ligadas diretamente ao campo).

    Embora a minha atuação na empresa seja a de consultor jurídico, acompanho de perto quase todas essas atividades, principalmente aquelas ligadas à agricultura. Gosto disso e sinto-me muito bem convivendo com o homem do campo.

    Uma das atividades que mais me encantam é a fruticultura, projeto que o grupo vem desenvolvendo com bastante tecnologia nas culturas do coco, manga e goiaba, numa área de aproximadamente 100 hectares, localizada nos  município de São Fidélis, onde resido e Campos dos Goytacazes, cidade vizinha.

    A fruticultura brasileira, nessa última década, vem ganhando destaque no cenário internacional, sendo o Brasil o terceiro maior produtor de frutas do mundo.

    Hoje, o trabalho nessa área é desenvolvido com bastante profissionalismo, exigindo dos investidores toda a tecnologia necessária para competir com o mercado mundial.

    O Chile, grande produtor de frutas, introduziu no processo de cultivo a figura dos pragueiros, lavradores treinados para diagnosticar pragas logo que elas se apresentam, evitando assim a contaminação dos pomares. É um trabalho que exige muita observação e conhecimento.

    O pragueiro tem que ficar paquerando as fruteiras durante toda a sua jornada de trabalho. Um tipo de namoro entre o homem e a planta.

    O nosso pragueiro  é um lavrador já experiente e que conhece quase todas as doenças das fruteiras. É um "expert" no assunto. Além desse conhecimento, adquirido durante muitos anos de experiência, é o nosso observador meteorológico. Basta ver um formigueiro ouriçado, a posição do vento (que é sentido através do dedo umedecido com a saliva e colocado em riste para o alto), a coloração do céu e a umidade do ar que o sr. Clemêncio nos diz com segurança se vai ou não chover ou se a chuva ainda vai demorar...

    Na semana passada, aconteceu um fato interessante: Estava o seu Clemêncio num dos pomares namorando as mangueiras, observando se alguma praga estava atazanando as fruteiras e, sem que ele me notasse, fiquei de uma certa distância observando o amigo lavrador paparicar o pomar.

    Depois de passados uns 15 minutos, falei: - Olha, seu Clemêncio, esse namoro vai dar em casamento. Ele riu muito. Estendi a minha mão para cumprimentá-lo, ele tirou o seu chapéu em sinal de respeito e nos abraçamos...

    Virei para ele e disse: - Seu Clemêncio, essas pragas não dão sossego, acabamos com umas, aparecem outras! Ele virou para mim, deu uma risada marota e disse: - Nada disso, doutor, essas pragas aqui a gente aniquila . Praga pior está lá em Brasília. Essa tal de corrupção é que não tem jeito. É a praga mais desgraçada que existe nesse nosso Brasil. Só Deus mesmo para ter piedade de nós.

    E eu estava ali aprendendo mais uma lição de um homem rude, que não se preocupava com as doenças da natureza e sim com as pragas que destruíram o caráter humano, transformando a maioria dos homens públicos, principalmente grande parte da classe política , na maior desgraça que assola este país tão rico.

    Que a lição do sr. Clemêncio possa servir de alerta. Quem sabe os homens de bem de nosso Brasil passem a exercer o papel de pragueiros para eliminar de nossa sociedade essas pragas humanas que humilham o nosso Brasil com sua falta de dignidade e caráter.

Entendo que o momento exato para isso será a próxima eleição que está vindo por aí.    Que tal fazer um multirão e transformar todos os eleitores conscientes em pragueiros e erradicar do nosso meio esses aproveitadores inescrupulosos que transformaram o nosso Brasil em um dos países mais corruptos do mundo? O voto é o antídoto mais eficiente para eliminar essas pragas.

Vai aqui a minha modesta sugestão, fruto de uma advertência do nosso pragueiro Clemêncio, que, apesar de ser um homem interiorano, entende mais do que ninguém de pragas. E ele está coberto de razão quando detectou o verdadeiro foco.

Antonio Manoel Abreu Sardenberg

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