MINHA CASA NO BRASIL, MEU TEMPLO NA ÍNDIA
Nasci em 7 de outubro de 1934, em Ipanema, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. Minha casa era na Rua Visconde de Pirajá, 206, próxima à rua Farme de Amoedo. Sou filha de Ruth Índio do Brazil, mas nasci filha de chinês com brasileira, menina adotada por Clarisse Lage Índio do Brazil e o Senador e Almirante Arthur Índio do Brazil e Silva, que não tiveram filhos de seu casamento — sendo meu pai, Adalberto de Oliveira.
Minha casa, grande, de dois pavimentos, era um museu de objetos de arte, herdados de meus avós, Índio do Brazil. Da cristaleira com a rica coleção de cristais São Luiz, bacarat, os cálices com decoração em esmalte, fabricados em Murano para os Sultões da Turquia, os objetos em vermeille, a vitrine com a coleção em marfim, de tudo isso, o que mais me impressionava, eram duas coisas: um oratório em jacarandá (que tinha-se como ter pertencido a D. Pedro II) — peça altíssima, toda entalhada, as portas com imagens em prata e incrustações de ágata vermelha, tendo pendurada da cruz que a encimava, uma lamparina bizantina que minha mãe zelava para que sempre estivesse acesa — e o outro objeto era um quadro em forma de medalhão, pintura em pastel, do rosto da Rainha Maria Antonieta, sem cabeleira.
Eu nasci em 7 de outubro, por coincidência, a data fatídica do assassinato de Clarisse Índio do Brazil, em 7 de outubro de 1919 — e essa data foi transferida para 8 de outubro, para que pudessem festejar meu aniversário. No dia 7 de outubro, eu ia com minha mãe, rezar e colocar flores no túmulo-capela de Clarisse I. do Brazil — assim, desde pequena, a Vida me colocou entre os dois Mundos: A Existência e a Morte – o que se tornou minha grande missão: provar que existe a reencarnação.
Depois de muitas viagens, em 1986, eu, com uma amiga e guia turística, estava no Sul da Índia, em Madurai, a procura do templo onde em 1750, eu servira como Devadase — depois de muitos templos visitados, sem reconhecimento, eu descrevi para um taxista, o meu templo, como me lembrava dele, com as pequenas montanhas atrás.
O taxista, me respondeu:
— Eu sei sim senhora, onde fica esse templo — é fora da cidade, mas amanhã, eu levo a senhora lá.
Era o templo — logo o reconhecí em um acesso de choro — e diante do altar, todo iluminado em pequenos fogos, eu imediatamente substitui em minhas lembranças, a perda do Oratório que muito amei, por aquele eterno santuário.
Clarisse de Oliveira